Virgem Prometida – Livro de Jéssica Macedo

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Marco Bellucci é o grande chefe da máfia italiana. Antes de assumir seu posto, ele foi criado com regras rígidas de sangue e honra. Ele era um líder que governava com pulso de ferro e sabia que não existia nada mais importante do que a família. Sua vida sempre foi em função da máfia e ele sabia que cada decisão tinha que ser feita pensando nos seus, inclusive o matrimônio. Em pleno século 21, casamentos ainda eram contratos, mulheres não tinham voz e eram tratadas como peça de barganha que favoreciam homens da máfia. Laís tinha apenas onze anos quando ficou noiva em um acordo que traria proteção à sua família em Portugal e beneficiaria os italianos. Era apenas uma menina quando se tornou posse do chefe. Levada à Itália, foi colocada em um convento até que completasse vinte e um anos…

ASIN: ‎B08SDW38GZ; Número de páginas: 458 páginas; Data da publicação: 6 janeiro 2021

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Biografia do autor: Jéssica Macedo é mineira, de 26 anos, e Under 30 da Forbes Brasil, a lista dos jovens mais promissores do país. Mora em Belo Horizonte, Minas Gerais. De dentro de seu apartamento, na companhia do marido e de três gatos, ela produz uma série de livros fantasia, romances de época e contemporâneos, e, principalmente, obras da literatura hot, um verdadeiro fenômeno editorial entre o público feminino, vendidas em um ritmo intenso nas plataformas digitais. Autora best seller da Amazon, iniciou sua experiência no mundo da escrita aos nove anos e tornou-se autora aos 14, com o lançamento do seu primeiro livro “O Vale das Sombras”. Com mais de 100 obras publicadas, é escritora, editora, designer e roteirista. Ajudou a adaptar um dos seus romances “Eternamente Minha” para um longa-metragem lançado na plataforma Cinebrac. Hoje, Jéssica é o principal nome de um time de autores, a maioria mulheres, que compõem o catálogo do Grupo Editorial Portal, que ela fundou a partir das experiências vividas em outras editoras. Acompanhe mais informações sobre outros livros da autora nas redes sociais. @autorajessicamacedo

Leia trecho do livro

Prólogo

Dez anos atrás…

O sol batia forte no para-brisas do carro naquela manhã de verão. Se existiam várias coisas que eu odiava na vida, o calor era uma delas. Era irritante, me deixava suando e com a cabeça doendo. Contudo, aquele era um dia que não poderia me deixar incomodar por algo tão trivial quanto o clima.

Fazia uma semana que meu pai havia morrido em uma emboscada por uma família rival e rapidamente precisei assumir os negócios da família. Ainda que eu houvesse sido preparado para isso a minha vida inteira, como um príncipe que era treinado desde criança para assumir um reino, nada era como a prática. Um evento traumático, como a morte de um pai, de repente te tirava das sombras e o tornava imperador.

Por sorte, eu tinha os meus irmãos mais jovens ao meu lado. Poderiam dizer que era idiotice, mas eu confiava neles com a minha própria vida. Theo e Mateo estavam comigo naquele momento quando desci do carro diante de uma grande mansão em Almada, uma cidade perto de Lisboa.

Bati a porta, ouvindo o impacto diante da minha força, e arrumei os óculos de sol sobre meu nariz. Maldito sol que deixava a minha cabeça latejando. Ajeitei o meu blazer, certificando-me de que a arma escondida na minha cintura estava encoberta. Balancei a cabeça e mexi no meu cabelo preto antes de seguir na companhia dos meus homens para o interior da grande mansão. O hall muito claro e bem iluminado parecia ofuscar o dinheiro sujo com que, provavelmente, aquela casa e os carros na garagem foram comprados.

Assim como qualquer governante na minha posição, eu era responsável por política. Era impossível se manter um bom regime sem alianças importantes, e aquele era meu dever diante da minha reunião com Afonso Barbosa, o chefe da maior máfia portuguesa.

Segui pelo corredor, muito bem decorado com pinturas que não dei a menor importância e avancei até uma enorme sala de estar. Meus homens se dispuseram na entrada, pacificamente, mas com as mãos próximas as armas, prontos para usá-las caso algo saísse do controle.

O homem sentado em uma poltrona marrom de couro levantou-se, segurando um copo de uísque. Ele tinha uma expressão séria, mas sorriu quando seus olhos castanhos me encontraram na entrada da sala, com uma postura altiva e firme. Eu tinha apenas vinte e seis anos, mas a minha arma já havia disparado mais balas do que eu era capaz de contar.

— Marco Bellucci.

— Afonso Barbosa.

— É um prazer ver que se dispôs a vir a minha casa.

— Vamos até onde os negócios nos levam, não é mesmo? — Dei de ombros e mostrei o meu melhor sorriso amistoso. Confesso que não era bom nisso, minha mãe, desde quando eu era criança, costumava me chamar de carrancudo. Estava sempre de cara fechada e, dificilmente, me viam rindo ou brincando com outros garotos. Ela reclamava por meu pai ter colocado o peso da máfia cedo demais sobre os meus ombros, porém acho que ele fez certo, ou eu não estaria tão pronto para sua morte caso houvesse agido de forma diferente.

— Você tem razão. — O homem deixou o copo sobre uma mesa redonda ao lado da poltrona e caminhou na minha direção.

Meus homens não se moveram, apenas encararam os dele, que também tinham armas a postos. Caso um dos lados decidisse atirar, certamente começaria uma verdadeira chacina, o que não era bom para ninguém.

— União de famílias por casamento é um costume multo antigo e usado para selar acordos há milênios.

Infelizmente, uma grande idiotice que se perpetuava, apenas pensei. Eu sabia, desde que fora preparado para assumir aquela posição que, muitas vezes, a minha opinião pessoal iria bater de frente com os interesses do meu império e teriam que ser colocadas de lado, assim como daquela vez.

A negociação com Afonso havia começado antes mesmo do meu pai morrer e, após eu assumir, não poderia voltar atrás, ou criaria uma inimizade com os portugueses que não precisávamos. Além disso, aquele acordo seria benéfico.

— Nós precisamos do seu porto para a entrada do contrabando que vem da América Latina e vocês precisam da nossa proteção contra os Costas, então parece bem justo para mim.

— Para isso entregarei para você o bem mais precioso que eu tenho.

Fiquei imóvel, mas me contive para não bufar. Aquela balela não funcionava para mim. Nenhum homem entregaria a sua filha ao chefe da máfia de outro país se ela fosse realmente o seu bem mais precioso.

— Você quer vê-la?

Balancei a cabeça em afirmativa. Era para isso que havia ido até ali, conhecer a minha futura esposa. Assim como acontecia com outros soberanos ao longo da história, o casamento não passava de um simples jogo político e não envolvia desejos do coração. Esse fator da minha posição me era bem claro desde que eu era criança e não tive a ilusão que escolheria uma garota pelo qual me apaixonaria e juraria amor e fidelidade pelo restante da minha vida. Teria uma esposa para fortalecer a máfia e quantas putas fosse necessário para satisfazer meus desejos de homem.

— Venha comigo, por favor. — Ele apontou para a escada e eu assenti com um movimento de cabeça.

Mateo deu um passo para vir atrás de mim, mas entendi a mão para que ele parasse. Iria subir sozinho, e essa minha atitude por si só já era um voto de confiança.

Afonso deslizou os dedos pelo corrimão escuro de madeira e subiu degraus acima. Numa distância confortável, eu o acompanhei. Minha arma estava a fácil acesso e eu usava um colete a prova de balas debaixo do temo e da roupa bem passada. Eu estava acreditando no meu aliado, mas não era um idiota.

Adentramos um corredor e seguimos até a penúltima porta. Ainda em uma distância confortável, esperei que Afonso abrisse a porta. Ele olhou para dentro e esperou que eu me aproximasse.

A primeira coisa que reparei ao olhar dentro do quarto foram as paredes rosas e a cama com dossel que parecia pertencer a uma princesa. Irônico, pois nada mais adequado para a esposa de um rei. Havia uma enorme estante com brinquedos, e sentada num tapete felpudo e branco estava uma garotinha brincando com uma boneca. Ela estava distraída e parecia se divertir, por isso levou uni tempo para notar a minha presença na companhia do pai, porém, quando ela nos viu, levantou-se e saiu correndo, fazendo da poltrona rosa um escudo para protegê-la do meu olhar curioso e nitidamente supresso.

— É só uma menina! — Voltei-me para Afonso com um misto de confusão e revolta. — Esperava vir aqui e encontrar uma esposa e não uma fedelha para cuidar. Quantos anos ela tem?

— Ela tem onze anos. — Ele engoliu em seco.

Eu não podia dizer que era um homem correto, já havia cometido muitas atrocidades em nome da máfia e cometeria outras até piores, mas levar uma menina de onze anos como esposa era impensável.

— Ela ainda brinca de bonecas. — Balancei a cabeça em negativa.

— Não imagino que se case com ela agora. Céus! Peço para que não, mas pode mantê-la sob sua tutela até que ela complete idade e possa se tornar sua esposa.

Meu primeiro intuito foi dizer que não. Eu tinha coisas demais para me preocupar e não queria que uma criança se tornasse uma delas, mas ela era o preço de ter o controle sobre um dos portos mais estratégicos no Atlântico.

— Verei o que vou fazer com ela. — Acabei assentindo.

Meu pai havia me dito que, quando eu assumisse o controle dos negócios, teria que estar pronto para fazer qualquer coisa.

— Tome conta dela. — Afonso estendeu a mão para apertar o meu ombro, mas recuou, mudando de ideia quando encontrou o meu olhar pouco receptivo.

— Farei o meu melhor. — Minha voz soou fria e pouco expressiva. Eu poderia ser um monstro, mas o pai dela não ficava muito atrás.

Ouvi o choramingo vindo de outra porta e resmungos de uma mulher. Imaginei que pudesse ser a mãe da garota, mas não cabia a mim lidar com a felicidade dela. Na máfia tudo era negócios, inclusive filhos, familiares e o próprio coração.

— Arrume as coisas da menina, eu irei levá-la. — Dei as costas e fui para sala.

Esperei por pouco mais de uma hora. Meus irmãos trocaram olhares comigo e não falaram nada. Eles sabiam o quanto aquela aliança era importante para nós e que não era apenas o meu casamento em jogo. A decisão era minha como futuro noivo e chefe da família.

Afonso desceu de mãos dadas com a garota e, chegando perto de mim, ela me encarou com um ar de curiosidade. Não sei o que o pai pode ter falado com ela, mas o espanto desapareceu dos seus olhos castanhos e arregalados.

— Vai me levar para passear?

— Vou.

— Posso levar a minha boneca?

— Pode.

— Para onde vamos?

— Para um convento.

Segurei a mão da menina e meus irmãos pegaram as malas dela. Os seus dedos eram tão pequenos que parecia até difícil conter entre os meus. Admito que não havia me atido a idade da garota. Minha única preocupação era ir até Portugal e firmar um acordo, mas esperava voltar para Itália com uma mulher para aquecer a minha cama e não com uma criança para cuidar.

A melhor ideia que tive em tão pouco tempo foi deixá-la em um convento, para que fosse cuidada por freiras até que completasse a maior idade, e eu não precisasse me preocupar com ela até então. Protegida em um dos muitos conventos da Itália, a menina não me traria dores de cabeça até que se tornasse uma mulher.

Virgem Prometida - Livro Jéssica Macedo

Capítulo um

É surreal pensar que pertenço a um homem desde que nem tinha idade para saber o que era o amor. Seria cômico se não fosse tão trágico.

Minhas lembranças antes de ter sido largada sob a tutela das freiras eram muito vagas. Eu lembrava de um quarto muito colorido e iluminado, diferente daquele cinzento com uma cama pequena e desconfortável, que eu era obrigada a dormir todos os dias. Outras noviças diziam que eu tinha sorte, pois, ao contrário delas, não me tornaria esposa de Deus, iria pertencer a um homem de carne e osso, que me esperava depois dos muros que cercavam a cidade do Vaticano.

Poderia até parecer romântico para elas, mas não era para mim. Não havia nada de conto de fadas em me casar com um homem quinze anos mais velho do que eu, que havia me largado em um convento para levar uma vida pudica até que completasse vinte e um.

Eu não via a minha família há dez anos e me perguntava todos os dias se eles sentiam a minha falta. Imaginava que não, já que não me ligaram, ou perguntaram sobre como eu estava. Já questionara a madre superiora muitas vezes, mas ela não tinha nada a dizer. Até a minha língua natal, o português, já ia se tornando uma lembrança cada vez mais vaga na mente.

Deveria estar empolgada com o meu aniversário se aproximando, mas, honestamente, eu não sabia o que me esperava, e algo dentro de mim me dizia que um futuro ao lado de Marco Bellucci poderia ser bem pior do que os dez anos de penitência e castidade.

— Laís? — Ouvi uma batida na minha porta que fez com que eu me levantasse.

— Sim, irmã Maria? — Levantei-me e fiquei de pé, pouco antes da porta ser aberta e revelar uma mulher baixinha e com feições roliças, quase infantis. Dentre as muitas responsáveis pelas noviças, irmã Maria era a mais gentil. Às vezes me iludia com a ideia de que ela pudesse ser uma mãe adotiva, estando ali para cuidar de mim. Poucas das informações que eu tinha sobre o mundo vinham dela, já que nosso acesso ao exterior era bem restrito. Tínhamos uma televisão na sala, jornais do Vaticano, que ficavam disponíveis na biblioteca, e uma internet muito limitada e cheia de travas nos computadores, que podiam ser utilizados apenas duas vezes por semana durante o período de uma hora. Eu não tinha celular, apesar de saber o que era, não tinha amigos, e tudo o que sabia fora ensinado sobre a tutela das freiras. O que vinha de novo era trazido pelas noviças recém-chegadas, essas vindo pelos mais diversos motivos. Algumas por escolha própria e outras sentenciadas a viver a ali, assim como eu, por alguém que achava que tinha o poder de decisão sobre suas vidas.

A melhor delas havia sido a Fabiana Rossi. Ela era filha de uma família abastada, mas que vivia se metendo em problemas, e seus pais a mandaram para o convento para ver se tomava jeito. Certamente não deu muito certo e ela foi expulsa semanas depois de entrar, porém, no período em que passou conosco, ela me mostrou uma réplica em borracha do órgão sexual masculino. Nunca havia visto nada parecido antes e não imaginava que fosse voltar a ver até a minha noite de núpcias.

Eu não teria contato com outros homens além do Marco, nem mesmo no colégio. Prestes a completar vinte e um anos, eu seria a bonequinha de louça dele, ao menos era o que diziam as outras noviças que tinham um pouco mais de noção de mundo do que eu.


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