Trecho do livro
Nota
Lembro-me até hoje de como me senti, no momento em que a história de Caleb e Victória bateu a minha porta. Não era um dia feliz. Nem de perto. Eles vieram aos poucos, dentro de um hospital, enquanto a chuva caía lá fora. Na época, eu não sabia, mas eles me vieram, justamente, para me ajudar a ter força. Para serem minha força. “O homem que não amei” chegou para mim e me deu a coragem de escrever sobre família.
O segundo livro que comecei e mergulhei de cabeça. Entreguei tudo o que a Aline com apenas 17 anos poderia entregar. Em 2016, ele se tornou o meu romance de estreia na amazon brasil, e fora exatamente assim, que minha carreira com os e-books se deu início. Anos depois, eles me bateram na porta, mais uma vez. Caleb e Victória me pediram, insistentemente que fizesse jus a história deles. Esta segunda edição é fruto de quase seis anos escrevendo, e aprendendo, todos os dias, principalmente com os leitores. Sem vocês isso seria impossível. Sem vocês, não teria porque publicar.
Espero de coração que sua (re)vísíta a Caleb e Victória valha a pena.
A cada linha escrita, deixo parte de mim, a qual, me salvou um dia.
Com todo amor,
Aline
Prefácio
“Os grandes amores nos deixam sem fôlego. Falta oxigênio, coragem, vontade… E sobra covardia. E tudo ao que se pode recorrer é a covardia de seu ser.”
Prólogo
“Talvez, só talvez, em algum universo paralelo, fomos feitos para durar.
Era um dia comum.
Suspirei fundo, enquanto encarava Luna e Victória no jardim de nossa casa. As duas eram tão lindas juntas, e só conseguia imaginar, todos nós em uma realidade diferente. Na qual eu fosse de fato o marido de Victória, ou melhor, o homem que ela amava.
Voltei minha atenção aos papéis e tentei não pensar tanto a respeito. Já estávamos casamentos há praticamente dez anos, e nada mudara. Tínhamos respeito um pelo outro, contudo, tudo entre nós se resumia naquilo. A forma como ela me olhava nunca chegara nem perto da devoção que tinha para com ela, por mais que tentasse disfarçar.
Talvez ela notasse, e por aquilo, fugisse.
Talvez ela notasse, e por aquilo, evitasse.
Talvez ela sequer notasse, e por aquilo, era indiferente.
Casar-me por amor não era algo fadado ao meu destino, entretanto, acontecera no segundo em que soube do casamento arranjado que seria colocado para salvar a empresa de meus pais. Eu faria qualquer coisa por eles, até mesmo, casar-me com quem fosse. Porém, no meio do caminho, eles colocaram Victória Fontana, a mulher pela qual eles sabiam, eu era completamente apaixonado.
Aos vinte e um anos, aquele seria um sonho se tornando realidade. Contudo, era apenas o meu sonho. Victória o fazia apenas por obrigação, em vários sentidos. Pelo contrato e principalmente, por Luna. Voltei minha atenção para o lado de fora, e mais uma vez, vi-a sorrir abertamente para nossa filha. Apenas aquele gesto, fazia meu coração disparar. Depois de alguns dias com ela de cama, devido a uma gripe forte, vê-la de pé e sorrindo do lado de fora de casa, fazia-me feliz.
Ela mal sabia, mas me fazia feliz nos detalhes. Na maioria deles
O que desejava, era que em algum momento, sentisse que ela me dava uma chance, um resquício qualquer. Contudo, temia ultrapassar qualquer linha, e perdê-la para sempre.
O que não sabia na época era que não dava para perder aquilo que nunca se teve de fato.
Levantei-me e fui até minha mesa, retirando um papel branco de dentro da primeira gaveta. Levei o papel comigo, assim como, um livro de capa dura como apoio. A velha caneta preta que ainda usava, já estava perto do fim, e ponderei que seria uma das últimas vezes que a usaria. Sempre necessitava de mais papel, mais tinta… mais sentimento.
Suspirei fundo e apenas permiti-me ser eu mesmo, por alguns segundos. Longe de obrigações, omissões e mentiras. Apenas eu, e o homem que desejava ser para com ela. O homem que ela amasse.
01
“Às vezes, desistir é a coisa mais forte
Às vezes, fugir é a coisa mais corajosa
Às vezes, ir embora é a única coisa
Que irá te fazer encontrar a coisa certa
Anos depois…
Um vestido branco e feito sob medida para ela, como Luna sonhara. O colar e brinco de diamantes que um dia fora presenteada e nunca usei, mas naquele momento, tornaram-se dela, e emolduravam-na no dia de seu casamento. Olhando minha filha dali, sabia que não poderia estar mais orgulhosa. Os votos sinceros de amor foram ditos e trocados. O brilho no olhar que ela compartilhava com seu marido — Lucas, mostrava que era um amor que valia a pena ser vivido.
Via neles, o que busquei um dia, antes de subir ao altar com Caleb Soares. O casamento de minha filha, felizmente, era o oposto do que fora o meu. Contudo, vê-la feliz daquela maneira, mostrou-me que, de alguma forma, tudo valera a pena.
A festa do casamento transcorria animada e linda, e naquele exato momento minha pequena dançava com o pai no meio do salão. Lágrimas vieram aos meus olhos pela emoção que me embargava, contudo, não eram relacionadas ao fato de que jamais amara aquele homem. Mesmo depois de duas décadas juntos, as borboletas no estômago nunca de fato me encontraram. Não por ele.
Não poderia negar que Caleb era um homem lindo. Ele, com toda certeza, o era. Olhos azuis profundos e cabelos negros ondulados, que junto ao porte físico alto e musculoso eram de tirar o fôlego. Mesmo aos quarenta anos, ele exalava masculinidade e virilidade por onde passava, e a verdade era que sempre chamara atenção de todos, principalmente, das mulheres. Contudo, nem sua extrema beleza, fez-me sentir apaixonada.
Saí de meus pensamentos no momento em que sua mão tocou a minha. Suspirei fundo e pensei: Lá vamos nós. Bancar um casamento que ambos sabíamos que já estava fadado ao fracasso há anos, ou melhor, que nunca sequer vingara. Rodopiamos pelo salão e evitei encará-lo. De alguma forma, sabia que precisávamos conversar, e o quanto antes melhor. Porém, não queria estragar a festa do casamento de nossa filha, por não saber esperar. Já tinha esperado vinte anos, mais algumas horas, poderiam ser suportadas.
— Não vou para casa hoje, não me espere. — sua voz soou baixa em minha orelha, e não pude evitar um sorriso debochado.
— Jamais esperei por você Caleb, hoje não será uma exceção. — sua expressão se fechou e apenas permaneci sorrindo. Aqueles embates eram tão comuns entre nós, que nunca entendi como ainda insistíamos em conversar em raros momentos.
Felizmente, após nossa curta dança, a noite correra perfeitamente. Estava sentada ao lado da mãe de Lucas, que parecia tão feliz quanto eu com a união de nossos filhos. Talvez, fosse o famoso instinto de mãe, indicando que ambos fizeram a escolha certa.
— Então, hoje a casa está liberada? — Lúcia insinuou e não pude evitar um falso aceno positivo. Sabia exatamente o que ela queria dizer, contudo, apenas conseguia pensar que a casa estava liberada para minhas séries e livros, muitas besteiras e refrigerante.
Luna se aproximou com Lucas, e já imaginava que era o momento de deixarem a festa. Levantei-me e segui com ela para um lugar mais afastado. De certa forma, senti que precisava falar com ela, ao menos, comunicá-la sobre minha decisão. Se existia alguém que deveria alguma explicação, era ela, mesmo que já soubesse claramente qual era a minha real situação com seu pai. Éramos os melhores pais que podíamos ser, contudo, aquilo nunca incluiu um casamento feliz.
— Pequena, estou muito feliz por você! — puxei-a para outro abraço e ela me apertou com força.
— Obrigada por tudo mamãe, sem você nada disso aconteceria. Eu teria desistido de Lucas no primeiro ataque de nervoso que ele me causou. — respondeu emocionada, e se afastou levemente.
Mesmo não tendo muita experiência, eu a aconselhara durante toda a relação. Baseada em livros e séries, que sempre apontavam para o mesmo segredo: paciência. No caso dela e de Lucas, realmente funcionara.
— Preciso te contar algo. — falei e ela arqueou a sobrancelha direita, exatamente como seu pai fazia.
— É sobre o papai, não é? — sua pergunta certeira mostrou-me que ela me conhecia muito bem. — Sim, Luna. — suspirei cansada. — Eu tomei uma decisão e espero que…
— Mamãe, eu quero sua felicidade! — cortou-me rapidamente e segurou minhas mãos com carinho. — Já abriu mão dela por multo tempo, ficando com o papai apenas por minha causa.
— Luna, você jamais foi um fardo pra mim. — esclareci, sem querer que ela pensasse o oposto daquilo nem por um milésimo de segundo. — Não me arrependo sobre minhas escolhas, mas…
— Está na hora de buscar a sua felicidade. — complementou e assenti, sabendo que era exatamente aquilo. — Seja ao lado do papai ou não. — continuou, como se lesse meus pensamentos.
— Sim… — sorri para ela. — Vou pedir o divórcio.
—O que?
Meu corpo estremeceu diante da voz grossa que reconhecia tão bem. De repente, todos meus planos de encontrar o momento certo para falar com Caleb se esvaíram. Ele estava ali, a alguns passos de mim. Talvez fosse o universo conspirando ao meu favor, e ajudando-me a dar um fim, o quanto antes, naquele casamento.
— Vá encontrar Lucas. Ele deve estar te esperando para pegarem o voo.
— notei a resistência de Luna ao querer sair, mas assenti para ela, em um pedido silencioso para que me deixasse a sós com seu pai. Puxei-a para outro abraço e beijei sua testa. — Não se atrase para sua lua de mel, ok?
Ela assentiu e sorriu em seguida, saindo de meus braços. Notei-a ir em direção ao pai, e o abraçar da mesma forma. Poderia falar e julgar Caleb pelo que fosse, menos, o fato de que ele era um ótimo pai. Suspirei fundo, no momento em que os passos de minha filha se afastaram, e voltei a pensar em como seria multo mais fácil apenas ter saído de casa e mandado um advogado com os papéis de divórcio para Caleb. Entretanto, eu querendo ou não, não conseguiria apenas deixa-lo sem conversar. Independente do amor, tínhamos uma história juntos, e ela, me cobrara o mínimo para com ele. Porém, ali estávamos nós.
— O que você disse? — perguntou e meu olhar parou no azul do seu. Mais uma vez, tentei sentir algo ao encará-lo, mas, como sempre, nada me tocou. A não ser, a vontade de que ambos pudéssemos seguir nossos caminhos e sermos felizes.
— Ë exatamente o que ouviu. — respondi, e soltei o ar com força. — Quero o divórcio, Caleb.
— Por que isso? — sua voz soou ainda mais baixa e mal o reconheci quando desviou o olhar e pareceu não conseguir
me encarar.
— Quero o divórcio. — repeti minha fala, sem saber mais como encerrar aquilo. Era só ele concordar e seguirmos em frente, simples.
Por que de repente não pareceu tão simples quanto em minha mente?
Por que ele fechara os olhos e parecia estar sendo machucado?