Trecho do livro
Sinopse
Meu nome é Anabela Vox, mas meus amigos me chamam de Annie. Acabei de me formar em medicina, e vou começar a fazer residência em um dos mais conceituados hospitais dos Estados Unidos, que fica em Los Angeles.
Minha vida parece perfeita, não é mesmo? Porém, toda a minha dedicação aos estudos, além da ausência de príncipes encantados (sério, eu deveria processar a Disney por nos fazer acreditar que eles existem), cheguei a esta altura da vida virgem. Isso mesmo: VIRGEM!
Agora, minha melhor amiga Kate quer me convencer a cumprir um acordo que fizemos anos atrás: perder nossa virgindade no nosso aniversário de vinte e cinco anos. Que é hoje, por sinal. Isso não tem como acabar bem…
1
Annie
Tentando me livrar de Kate, minha quase ex-melhor amiga, tranco a porta do meu quarto no nosso novo apartamento em Los Angeles. Mal chegamos aqui, e ela já está me enlouquecendo.
Termino de passar a roupa que vestirei amanhã, no primeiro dia do meu novo trabalho, enquanto ela continua gritando (e eu, a ignorando) do outro lado da porta.
Enquanto estou guardando a roupa cuidadosamente em meu pequeno armário, Kate abre minha porta à força com um chute. Gente, qual é o maldito problema dela?
— Está louca? — pergunto, verificando o estrago que ela fez.
Dane-se, ela que vai pagar pelo conserto da fechadura.
— Vamos fazer isso hoje, Annie! — Ela insiste pela milésima vez, como se não tivesse acabado de invadir meu quarto como uma psicopata.
— Vou repetir: está louca?
— Você que está louca! — ela reclama, colocando o indicador na minha cara, arriscando seriamente levar um peteleco na testa. — Nós fizemos um pacto!
— Fizemos esse maldito pacto sete anos atrás, Kate! —revido, porque esse pacto ridículo de virgindade não faz QUALQUER sentido.
Sim, eu, Anabela Vox, e minha melhor amiga, Katherine Kelly, somos virgens aos vinte e cinco anos de idade.
Na noite do nosso aniversário de dezoito anos, nós fizemos a besteira de pedir ao irmão mais velho de Kate para comprar vodca para a gente, nos embebedamos, e fizemos um “pacto”: se chegássemos aos vinte e cinco ainda virgens, perderíamos a virgindade no nosso aniversário.
Mas essa ideia é completamente IDIOTA: gente, se não conhecemos em vinte e cinco anos caras que nos fizessem ter vontade de perder a virgindade (Leo Di Caprio em Titanic não conta), como iremos encontrá-los em um dia?
— Foi um pacto de sangue! — ela insiste.
Ah, é. Estávamos tão bêbadas que a gênia da Kate quis marcar nosso pacto com sangue, cortando as palmas das nossas mãos com o estilete nojento do irmão dela. Além da falta de higiene, eu ainda ganhei uma cicatriz que parece nunca desaparecer.
— Não vai rolar, Kate. Hoje vamos comemorar nosso aniversário — digo lentamente, para ver se a ideia entra na cabeça dura dela.
— Exato, vamos comemorar perdendo a virgindade — ela responde, toda animada.
Como alguém tão inteligente pode ser tão toupeira para algumas coisas?
— Quer parar de insistir nisso, Katherine?
— Não vou parar, Anabela!
— Não vou perder a virgindade com um cara qualquer!
Se eu me guardei até agora, vou continuar me guardando até achar o cara certo! Se fosse para perder a virgindade com o cara errado, eu teria perdido com o Fabio Luiz, um garoto do colégio que era o maior gato e me chamou para o baile de formatura.
Infelizmente, não tivemos qualquer química. Além disso, o Fabio era um babaca: assim que eu disse que não íamos dormir juntos depois do baile, ele foi arranjar outra garota para desvirginar.
— Mas foi EXATAMENTE o que a gente combinou de fazer quando completássemos vinte e cinco anos — Kate continua insistindo.
Ela é pior que touro quando vê bandeira vermelha.
— Eu sei muito bem o combinamos, mas não quero perder a virgindade para um cara que nem conheço!
— Quer morrer virgem, como a Manha?
Ah, que ÓDIO! Ela sabe muito bem que Manha é meu calcanhar de Aquiles. Manha era uma garota do nosso colégio que falava abertamente que só perderia a virgindade depois de casada.
Pois bem: a Manha começou a namorar com o John Newman, um carinha bem fofo do nosso antigo colégio, noivou com ele, mas aí, no dia do casamento, teve um acidente de carro e morreu.
VIRGEM!
Exceto por mim e pela Kate, TODAS as nossas amigas do colégio que ainda eram virgens perderam a virgindade com o primeiro cara que viram por causa da Martha. Eu sempre tive uma fobia gigante de morrer virgem que nem a pobre da Martha.
Não acredito que Kate está jogando isso na minha cara!
— Claro que não quero morrer virgem — resmungo.
— Se ficar esperando o príncipe encantado, vai morrer virgem, com trinta gatos, e seu corpo será encontrado putrificado pelo jardineiro!
Não acredito! Essa é a minha outra fobia! Ah, mas a Kate sabe jogar sujo. Respiro fundo e, quando noto que ela está prestes a dizer mais alguma coisa, levanto a mão.
— Okay, okay, já entendi.
— Então? Vamos começar nosso novo emprego como mulheres não-virgens?
Eu realmente não queria começar minha residência virgem. Se quase não tenho tempo hoje para sexo, quando começar a residência aí que não terei mesmo.
Vão por mim, hospitais não têm as safadezas que mostram em Grey’s Anatomy. Kate se decepcionou muito ao descobrir isso, acho que ela só fez medicina achando que encontraria um Dr. Derek Shepherd McDreamy para chamar de seu.
Quando ela descobriu que os plantões de doze a vinte e quatro horas no hospital nos transformam em zumbis com jalecos e estetoscópios, quase desistiu da medicina.
Respiro fundo, e chego à conclusão de que esta batalha está perdida.
— Tudo bem, então.
Ela faz sua dancinha da vitória.
— Agora, só temos que descobrir algo para vestirmos —Kate comenta.
— Eu já escolhi — tiro o vestido de veludo vinho do meu armário. — Esse vestido que minha mãe me deu de Natal e…
— Você NUNCA vai perder a virgindade nesse vestido, amiga — ela diz, olhando para o meu vestido com cara de nojo.
— Como assim?
— Isso é vestido de “vou-à-igreja-aos-domingos”.
Olho de novo para o vestido: ele tem gola alta, bate nos joelhos, e tem magas compridas. Por mais que deteste dizer isso, Kate tem razão: é formal demais para sairmos à noite em Los Angeles.
— Então o que nós vamos vestir? — pergunto, porque nenhuma das roupas que trouxe de Chicago são “cool” para usar em Hollywood.
— Temos que encontrar roupas que gritem “sou-uma-tigresa-na-cama”.
— Acho que não tenho roupas que gritem isso — considero, a menos que ela esteja falando do vestido com estampa de tigre que me deu quando fiz dezesseis anos, que eu me RECUSO usar.
Tô nem aí: prefiro morrer uma virgem do que usar o vestido de estampa de tigre.
— Então vamos às compras! — ela diz animada, e me puxa pelo pulso na direção da porta.
— Você esqueceu que sobrou pouquíssimo dinheiro da bolsa e não vou receber mais? E ainda vamos esperar para recebermos nosso primeiro salário!
Além disso, meus pais já foram fofos o suficiente para pagar minha passagem para Los Angeles, além da minha mudança para cá.
— Não tem problema — ela diz, toda sorridente. — Tenho o cartão do meu pai. Vai ser seu presente de aniversário.
Mas ela já não ganhou presente de aniversário este ano? Duas vezes?
2
Annie
Quero me recusar a receber o vestido de Kate, porque o tio Mark, o pai dela, já me enviou um conjunto de livros médicos sobre cirurgia caríssimo de presente de aniversário antes de deixar-mos Chicago.
Porém, eu sei que, se eu me recusar, vai ser pior. Bem pior. Kate provavelmente vai ligar para os pais para convencê-los de que eles precisam me persuadir a ganhar o vestido. Claro que, ao fazer isso, ela vai explicar sobre nosso pacto de virgindade.
Sim, Kate é dessas. Ela é uma excelente amiga, mas a palavra “discrição” não faz parte do seu vocabulário.
Enquanto estamos no Uber, Kate pesquisa sobre os lugares mais badalados para comprar roupas em Los Angeles. Que bom que os pais dela são ricos, porque eu provavelmente nem conseguiria pagar um chaveiro num lugar desses.
Quando chegamos à na que ela pesquisou no Google, eu posso jurar que é a mesma na onde a Julia Roberts fez compras em Uma Linda Mulher. Olho pelas vitrines, boquiaberta, não só com a beleza das coisas, mas também com os preços.
Finalmente, vemos uma vitrine de que ambas gostamos, com vestidos leves e joviais, apesar dos preços serem absurdamente salgados, e Kate me puxa para dentro da loja, onde o ar-condicionado é mais do que bem-vindo.
— Olá, bom dia — uma atendente elegante nos recebe com um sorriso. — Como posso ajudá-las? — Queremos comprar roupas para comemorar — Kate responde, saltitando como uma gazela pela loja de tão animada, olhando para todos os cantos.
— Ah, estão no lugar certo — a atendente diz, com um sorriso, e se apresenta. O nome dela é Judy. — Querem beber algo?
— Com certeza, Judy! Champanhe?
Como é que é?
— Claro — Judy responde, e vai para os fundos da loja, provavelmente para pegar a bebida.
— Nem é hora do almoço, Katherine! — reclamo com minha amiga.
— É hora do almoço em algum lugar, Anabela — ela resmunga, revirando os olhos.
Até parece que EU sou a louca da relação, né?
— Não vou beber agora! — reclamo.
— Deixa de ser boba, Annie. — Judy retorna com uma pequena bandeja de prata e duas taças com champanhe. Kate pega as taças e explica para Judy: — Hoje é nosso aniversário. Somos melhores amigas.
— Nossa, que delícia — Judy diz com um sorriso, apoiando a bandeja em cima de uma mesa lateral. — Queria tanto que meu aniversário fosse no mesmo dia da minha melhor amiga.
É porque sua amiga não é Katherine Kelly, judy, penso, mas fico calada.
— Nem me fale — Kate diz animada, e me abraça de lado.
— Precisam de roupas para comemorar? — Judy questiona.
— Isso mesmo. Vamos hoje para uma boate e precisamos de vestidos que gritem, “vem-em-mim-que-eu-tô-facinha”.
Meu senhor…
— De jeito algum! — respondo, porque NÃO vou ficar me oferecendo para o primeiro que aparecer na frente!
— Quer perder a virgindade ou não, Anabela?
— Virgindade? — Judy questiona, olhando para nós duas, pela primeira vez séria.
— Ih, Judy. A história é longa — Kate resmunga, tomando o champanhe de sua taça em um gole. — Eu e Anabela sempre sonhamos com o príncipe encantado. Claro que ele não apareceu, para nenhuma de nós duas.
— Eles quase nunca aparecem — Judy comenta com um sorriso tristonho.
Kate pega a segunda taça de champanhe. A que deveria ser minha, lembram? Ela vai lá e vira de novo em um gole.
— Pois bem. Eu e Anabela…
— Annie! — digo, porque não gosto que me chamem de Anabela.
— Eu e Annie aqui combinamos que, se ainda fôssemos virgens no nosso aniversário de vinte e cinco anos, iríamos a uma boate e arranjaríamos gatos experientes para acabarem com a nossa situação de hímen, se é que me entende.
— Com certeza — Judy gargalha com o comentário. Eu, por outro lado, não estou achando nada disso engraçado, e estou com uma sensação estranha no estômago. — E tenho algo perfeito para vocês duas.
— Algo bem “quero-você-agora-gostoso”? Kate questiona, animada.
— Não. Algo sexy e elegante.
— Gosto do elegante — digo e Judy pisca para mim.
— Gosto do sexy — Kate diz, e Judy também pisca para ela.
— Então, vamos à obra, meninas.