Quando o conde Guillermo de la Cruz anunciou seu noivado com Kara de Montaine, a simplória e sem graça herdeira de uma grande fortuna, a alta sociedade ficou boquiaberta, em choque. Mas ninguém estava mais abalada do que a própria Kara. O homem de seus sonhos havia acabado de pedi-la em casamento... para se vingar de sua antiga amante! Ela deveria ter recusado, mas algo no olhar primitivo de Guillermo lhe mostrara que ele estava longe de lhe ser indiferente.
Editora: Harlequin; 1ª edição (10 março 2021) Idioma: Português Número de páginas: 110 páginas ISBN: 9786587721873
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CAPÍTULO 1
AQUELE estava sendo anunciado como o casamento do ano, a união do casal mais romântico de Manhattan. E, até onde Kara deMontaine podia notar, a mídia tinha razão. Ela estava nos fundos da lotada catedral de Saint Patrick, cercada pela nata da sociedade. Este era seu mundo, seu círculo. Mesmo assim, sentia-se completamente sozinha enquanto aguardava ser escoltada pela nave até seu assento.
O inesperado casamento do magnata editorial Tristan Sabina havia se tomado o evento da primavera. Kara queria ser capaz de encarar aquela apenas como outra festa qualquer, mas tinha quase 30 anos e ainda era solteira. Por isso, cada casamento que presenciava estava se tomando tuna tribulação, uma espécie de prova de resistência que a levava a concluir que provavelmente nunca seria uma noiva. Tentou afastar a melancolia que parecia envolvê-la, mas não conseguiu.
Isso não tinha nada a ver com Sheri Donnely, a noiva. Kara sabia pouco sobre ela, mas tinha ouvido dizer que Sheri era um amorzinho. Também descobriu, em primeira mão, por intermédio de sua irmã mais velha, Rina, que o vestido de Sheri era simplesmente magnífico.
Kara era vítima de uma vontade da qual era incapaz de fugir ultimamente. A vontade de vestir um vestido branco; de ver seu noivo parado no altar esperando por ela; e de cruzar uma igreja cheia de convidadas sentindo inveja dela, pois, neste dia, Kara seria a mulher mais bonita do mundo.
Sentiu lágrimas nos olhos ao se lembrar de quando se deitava na cama com sua mãe nas preguiçosas manhãs de domingo para falar do casamento dos seus sonhos. Rina sempre se aninhava no lado direito e Kara no lado esquerdo da cama king-size dos pais. Naquela época, ainda não tinha percebido que não era uma princesa de contos de fada. Não tinha percebido que ter quase 1,80m e ossos largos faria a maioria dos homens hesitar um pouco perto dela.
Kara fechou os olhos e ouviu a voz doce de suave da mãe como se num sonho. Alisha deMontaine tinha morrido quando Kara tinha 16 anos, pouco antes de fazer sua estreia como debutante. Rina fizera seu début um ano antes.
Rina e Kara eram muito diferentes uma da outra, tanto quanto duas mulheres podem ser. Enquanto Rina era miúda, magra e reverenciada por sua beleza, Kara era alta, um tanto robusta e conhecida por seus trabalhos de caridade.
Ela fungou e piscou rapidamente, sabendo que, embora fosse aceitável chorar quando a noiva aparecia, estar aos soluços antes que a cerimônia começasse seria uma grande gafe.
Uma mão surgiu sobre seu ombro e um lenço branco imaculado apareceu diante de seus olhos. A mão que o segurava era bronzeada, masculina e enorme.
— Um casamento é motivo de alegria — disse o homem numa voz profunda e forte, com pronunciado sotaque espanhol. Kara se deparou com olhos cor de mel. O homem era incrivelmente bonito e a fitava com atenção. Também era mais alto que ela, provavelmente teria 1,85m ou 1,90m. Ela clareou a garganta e logo secou os olhos.
— Lágrimas de alegria.
Ele ergueu uma das sobrancelhas. E havia algo de arrogante na maneira como o fez.
— Conheço as mulheres.
Sem dúvida. Ele exalava uma sexualidade primitiva que, provavelmente, arrastava mais mulheres que o desejável para seu lado. Então, mais uma vez, aquele homem lhe pareceu capaz de lidar com qualquer coisa, mesmo um rebanho de mulheres se jogando sobre ele. Certo, estava ficando um pouco histérica. Kara respirou fundo. Era conhecida por manter a pose. Era hora de reassumi-la. Hora de tomar o controle.
— Talvez conheça as mulheres — disse —, mas não me conhece. Ele assentiu.
— Então, vamos mudar isto. Sou o conde Guillenno de Cuaron y Bautista de la Cruz. E você?
Kara sabia quem era ele. Estava o tempo todo nos tabloides por causa de suas escapadas pelo mundo. E Rina transitava na periferia de seu círculo de amizades.
Guillermo sempre estava de braços dados com uma bela mulher. Não uma herdeira gorducha como ela. Maldição! Estava tentando se sentir mais confortável em seu corpo tamanho 42. Nada permitia que ela chegasse ao 36. Nada. Tinha feito mais dietas do que gostaria de admitir.
Kara deMontaine — respondeu, estendendo a mão para o cumprimento.
Guillermo tomou a mão dela e a acariciou com os lábios.
Agora que não somos mais estranhos… Qual o motivo dos olhos chorosos neste dia feliz?
Ela meneou a cabeça. Sim, como se ela fosse mesmo contar àquele homem maravilhoso que estava triste porque nunca seria uma figura perfeita de noiva.
— Você não compreenderia.
— Faça o teste.
— Conde…
— Meus amigos me chamam de Gui.
— Gui — repetiu ela sem querer. Gostava da maneira como o nome soava em seus lábios. E amava a voz dele. O sotaque a deixava com vontade de escutá-lo o dia inteiro.
Kara, me conte. Tenho três irmãs e inúmeras primas. Sou bom ouvinte.
Havia algo de gentil e compreensivo nos olhos dele. Kara queria despejar toda a triste verdade. Que nunca teria um casamento assim. Nunca encontraria um homem que a apreciasse. Nunca seria uma noiva invejada pelo mundo. Mas não podia fazer revelações àquele homem. Era bonito, na verdade quase belo, com seus traços clássicos, cabelo loiro-escuro e olhos multicoloridos. Um homem dos sonhos, mas Kara era o tipo de garota que só arranjaria alguém interessado no seu dinheiro.
— É uma bobagem.
— Ah, isso quer dizer que é algo muito pessoal. Algo que lhe significa muito.
Deus, não queria que Guillermo fosse perceptivo a ponto de saber o que realmente a perturbava. Tinha feito as pazes com a identidade e a aparência, e isso funcionava porque todos acreditavam que ela vivia feliz na sombra de Rina. Na maioria das vezes, sim.
— Por favor, não.
— Não o quê?
— Não finja que realmente se importa com o que eu tenho a dizer ou com o que me perturba. Sei que sou a última mulher no mundo para quem normalmente olharia.
Guillermo a arrastou do lotado vestíbulo da igreja para um corredor silencioso. Kara amava a catedral. Mesmo sua família não sendo católica, estivera muitas vezes na igreja apenas para passear e apreciar a arquitetura.
— O que sabe de mim? Não acabamos de nos conhecer? — perguntou ele.
Ela corou, pensando em todas as histórias que ouvira. Conhecia Tristan há anos, porque a irmã dele, Blanche, e Rina eram grandes amigas. Então, sabia de histórias sobre Gui, Tristan e Christos. Ouvira falar da Seconds, a rede de clubes pertencente ao trio, das festas espantosas, e tinha visto com olhos invejosos as belas mulheres que sempre os rodeavam.
…