JUST A TOUCH – Livro de Paloma Mazzon

JUST A TOUCH - Livro de Paloma Mazzon

Trecho do livro

PARTE 1

QUINTO LIVRO DA SÉRIE HERDEIROS LAZZARI

1. BELLA

Apertei a pasta com meus documentos com toda força que eu não sabia que tinha. Assim como o resto do meu corpo, minhas mãos tremiam. O meu estômago estava tão apertado, a ponto de me enjoar.

Dois estudantes da universidade entraram juntos — um deles estava emburrado e não parava de resmungar sobre alguma coisa, que eu não consegui entender porque algo martelava em meu cérebro, implorando para que eu saísse correndo dali. Eles pararam diante da mesa da senhora Brandt, uma mulher em seus quarentas anos que era a secretária principal do reitor.

O resmungador perguntou se o reitor estava na sala dele, como se ele fosse o dono do lugar.

— O reitor está esperando por vocês dois, senhor Barton. — A secretária forçou um sorriso cínico para o cara.

Como resposta, ele faz uma careta, bagunçando o cabelo ruivo com uma mão.

O outro, provavelmente seu amigo, riu um pouco, batendo em seu ombro para que ele o acompanhasse até à sala do reitor. Quando passaram na minha frente, seus olhos, de uma cor azul-escuro, um tanto perturbador, se encontraram com os meus —verdes e assustados. Ele fez um gesto com a cabeça, como um cumprimento calmo e civilizado, mas tudo que eu consegui fazer foi arregalar os olhos.

Minha respiração simplesmente escapou dos meus pulmões. O medo fez tudo paralisar, até mesmo minhas mãos, que apertavam a pasta de documentos.

Eu odiava atenção. Só de pensar que uma pessoa queira estender a mão para me apertar, me dá ânsia de vomito. E foi isso que aconteceu.

O cara não fez nada além que acenar levemente com a cabeça, e meu estômago entrou em um transe, apertando, se esmagando dentro de mim, a ponto de fazer meu café da manhã querer retornar por onde entrou.

Seu amigo, Barton, continuava resmungando algo sobre baboseiras, mas eu nem conseguia focar na voz direito. Meu corpo inteiro arrepiado, a vontade de correr me dominava, só que minhas pernas estavam paralisadas.

Só quando eles sumiram dentro da sala e fecharam a porta, eu consegui cambalear até a mesa da senhora Brandt e deixei praticamente joguei a pasta sobre a mesa.

A senhora olhou para mim com uma sobrancelha bem-feita erguida, como se dissesse “Jura, mocinha?”. O deboche era claro em sua expressão.

Engoli com dificuldade: — Eu quero… me matricular… para as… — Puxei o ar com força, tentando acalmar meu corpo trêmulo, raciocinar direito. Com uma mistura de vergonha e medo, fechei os olhos com força e inspirei e expirei, até conseguir completar: — aulas presenciais. Por favor.

Parecia que eu tinha corrido uma maratona, tamanho o esforço. Meu peito subia e descia com força agora. Ao abrir os olhos, vi que a expressão da senhora Brandt agora era de preocupação.

— Ok? — ela parecia meio incerta quando pegou minha pasta para ver os documentos. — Você está bem, querida? Pode se sentar ali se quiser.

Chacoalhei a cabeça rapidamente, negando:

— Não! — Acabei falando alto demais e recuei, aliviando o tom: — Não, obrigada. Só… por favor, acabe logo com isso para que eu possa ir para casa.

No momento exato em que as palavras terminaram de sair da minha boca, a porta de entrada se abriu e uma quantia de uns dez alunos adentraram o lugar.

Eu pude sentir minha pressão despencando. Rapidamente, segurei na quina da mesa com as duas mãos, com muita força, com medo de cair.

Medo era um nome muito simples para dar ao que eu estava sentindo agora.

Honor.

Pânico.

Pavor.

Esses poderiam explicar melhor meus sentimentos.

Era como se meu corpo convulsionasse de pé, minha mente rodava, tentando assimilar a euforia das vozes.

Eles procuravam uma explicação da senhora Brandt, sobre uma festa que o reitor não queria liberar.

— Ora, parem de falar todos ao mesmo tempo! — A secretária reclamou, calando-os de imediato.

Ela era sinistra com seus grandes óculos de leitura e o coque apertado. Eles deveriam teme-la.

— O reitor já está conversando com o Barton e o Cross sobre isso. — Ela continuou, sua voz era de bronca. — Vocês podem sossegar e me deixar trabalhar? Já irão saber o que foi decidido.

— Mas não é justo, Karen! — reclamou uma menina, dando um passo para o meu lado.

Meu lado. Muito próxima. A minha respiração travou quando em seu pequeno surto, ela movimentou os braços, gesticulando, e quase roçou o meu. Todo meu corpo arrepiou e, imediatamente, pulei para o lado.

Eles pararam de falar e, como sempre acontecia, me olharam com curiosidade, como se eu fosse alguma atração de um zoológico.

— Querida, você está pálida! — Senhora Brandt falou, saindo de trás de sua mesa para se aproximar mais de mim.

Automaticamente, dei vários passos para trás — o que não foi uma boa ideia, uma vez que, sem que eu escutasse, a porta do reitor se abriu e minhas costas esbarrou em alguém.

Sabe aquelas três palavrinhas?

Horror. Pânico. Pavor.

Tripliquem ela agora. Era o que eu estava sentindo nesse exato momento. Meus músculos se tencionaram com o toque.

E eu sabia o que viria a seguir.

O meu coração acelerou de uma forma tão intensa, que meu peito doía, a falta de ar tomou conta de mim e a comecei a hiperventilar.

Dava para ver algumas pessoas rindo de mim. Era o que eu mais queria evitar.

— Oush. — A pessoa atrás de mim reclamou e cometei o grande erro de segurar meus braços. — Você está bem?

O mundo girou diante dos meus olhos marejados. A ânsia de vomito veio com tudo.

Eu precisava correr dali para bem longe de todo mundo ou seria bem pior. Nunca mais pisaria naquele lugar. Nunca.

Fechei os olhos, puxando todo o ar que eu conseguia — muito pouco —, então procurei me controlar e corri. Esbarrei na porta, escancarando-a, ignorando as vozes das pessoas chamando por mim ou me chamando de louca e corri o mais rápido possível em direção ao estacionamento.

Eu tinha que chegar ao meu carro e depois na segurança da minha casa, onde não haveria perigo de toque, nem de nada.

Ao entrar em casa, me certifiquei de que tudo estava bem trancado e fui direto para o banheiro, me agachei ao lado do vaso sanitário e coloquei todo o café da manhã para fora. Bem aos poucos, meu coração foi voltando ao normal, assim como minha respiração. Agora estou bem.

Estou segura.

Sem pessoas.

Sem toques.

Depois de vomitar por uns três minutos, levantei e lavei minha boca e rosto. Quando me olhei no espelho, vi que a senhora Brandt tinha razão: eu estava pálida. Até demais.

Procurei respirar devagar, dizendo para mim mesma que estava tudo bem.

Pelo espelho, notei as manchas vermelhas nos lugares que a pessoa — um homem — colocou as mãos em meus braços. Era o que acontecia quando eu era tocada. As manchas eram imediatas.

Virei de costas, puxando a blusa para cima, vendo que minhas costas estavam toda marcada também e tive vontade de chorar.

Eu me sentia como uma anomalia genética, e as pessoas tinham razão quando me chamavam de louca, esquisita ou estranha. Não era normal.

Com bilhões de pessoas no mundo, por que logo eu, que sonhava em fazer uma faculdade em um lugar grande como aquele em que estive hoje, que achava bem legal as festas de fraternidade que via em filmes e lia em livros, fui desenvolver Afefobia?


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