Trecho do livro
Quando sua esposa morreu no parto, Benjamin construiu um muro ao redor de seu coração e prometeu nunca mais se apaixonar. Mas não esperava que o destino fosse conspirar contra ele e obrigá-lo a precisar escolher uma mãe para sua filha, uma esposa para estar ao lado do CEO da construtora mais lucrativa da cidade.
Lia, uma garota humilde do interior, estava fugindo de um noivado desastroso quando aceitou o emprego de babá da filha de Benjamin De La Roche.
O que ela não sabia é que seu novo chefe seria a maior tentação que ela, virgem e inexperiente, poderia conhecer.
Sedutor e misterioso, Ben tem uma oferta indecente para Lia. Um contrato, um casamento, uma filha órfã de mãe e uma única regra: não se apaixonar pelo irresistível CEO De La Roche.
Será que Lia conseguirá resistir?
Bato três vezes na porta e aguardo. É a primeira vez que o senhor De La Roche quer conversar comigo nessas semanas em que estou trabalhando como babá da sua filha.
Estalo os dedos, ansiosa para ser recebida em seu escritório. Como estou trabalhando há tanto tempo sem ser chamada por ele ou sem ter alguma conversa com o mesmo sobre a criação de sua filha, acabo criando várias paranoias nesse pequeno instante. Não posso perder este emprego, a cidade é grande e nova para mim, não tenho para onde ir e eu não posso, de maneira alguma, voltar para o lugar de onde fugi.
Estou pensando na primeira vez que o vi. Era meu segundo dia aqui e eu tinha ido até a cozinha buscar papel toalha para limpar o picolé que Alicia, sua filha de 7 anos, havia derrubado no chão da varanda frontal da mansão. Voltei correndo, tomando impulso e deslizando os pés pelo mármore branco como uma criança levada, escorreguei pela varanda com o rolo de papel toalha na mão e dei de cara com ele.
Recordo-me de como fiquei constrangida pela minha chegada desastrosa, por quase ter esbarrado nele, mas principalmente por sua aparência ter me desconcertado. Aquele tipo de beleza que não passa despercebida por ninguém, o magnetismo que atrai o corpo, que nos faz querer olhar e olhar para a pessoa sem parar.
Senti-me como a “gata borralheira encontrando seu príncipe encantado”, descabelada, de chinelos, calça legging e camiseta regata com a gola frouxa. Ele mal olhou para mim, me encarou por alguns segundos, fazendo meu coração martelar em meus ouvidos, deu um aceno de cabeça e um sorriso torto.
— Você é a nova babá? — ele perguntou, e eu percebi que jamais tinha ouvido um timbre de voz tão charmoso.
— Sim, eu sou — respondi acanhada, sem sequer me apresentar, envergonhada pela minha voz soar esganiçada. Baixei a cabeça e comecei a limpar o picolé derretido.
Alicia abraçava e falava com o pai com devoção, encantada com sua presença como eu nunca me encantei com o meu pai.
— Só vim em casa buscar algumas plantas que deixei no escritório — ele disse para a filha, beijando o topo da cabeça loira e ficando de pé. — Preciso voltar para a empresa.
— Ah, painho… — Alicia protestou, mas não havia muito que ela pudesse fazer.
— Prometo que vou ler para você antes de dormir — ele disse, voltando-se para mim em seguida, usando aquele timbre de voz macio e sedutor como se não fosse injusto. — Carol acertou tudo com você?
— Sim, acertou — respondi, totalmente acanhada, sentindo a injustiça de encontrar um homem como ele toda desarrumada, enquanto ele estava elegante, de temo azul marinho, segurando óculos escuros caríssimos e calçando sapatos lustrosos. — Ela me explicou tudo.
Ele acenou outra vez com a cabeça, me presenteando com outro sorriso torto de tirar o fôlego, então virou as costas e caminhou na direção do escritório, me deixando perplexa, parada ali.
Demorei alguns segundos para perceber que estava sendo ridícula com todos aqueles pensamentos a respeito dele. Que diferença fazia eu estar descabelada ou não? O que iria mudar se eu estivesse com uma roupa melhor?
Nada, absolutamente nada, porque ele era meu patrão, um CEO multimilionário que não queria nada de mim, além de que eu cuidasse bem da sua filha. Eu seria uma perfeita tola se começasse a alimentar sentimentos por ele.
Sacudo a cabeça para afastar esses pensamentos vergonhosos quando ouço o dique da porta sendo aberta e, então, sua imagem vai surgindo na fresta que fica cada vez maior, até conseguir vê-lo por completo. Meu coração bate mais forte quando o senhor De La Roche me convida a entrar com um gesto da mão direita.
Adentro seu escritório e ele fecha a porta. Me sinto estranha por alguém como ele fechar uma porta para mim, a simples babá. Na mão esquerda ele segura o aparelho celular preto junto ao ouvido. Sem me dar muita atenção, gesticula para que eu me sente na cadeira em frente a sua mesa.
Tento respirar tranquilamente para acalmar o coração que está galopando exageradamente, enquanto faço uma prece mental para não ser demitida, me perguntando o que posso ter feito de errado para ser chamada ao seu escritório.
Sento na cadeira giratória e ele ocupa a poltrona atrás da mesa, um objeto de couro preto que lembra um trono em seu espaldar. Os olhos do senhor De La Roche estão voltados para o iPad em sua mesa, seu dedo agora desliza pela tela.
Meus olhos acompanham seu gesto, passando pelo dedo longo com a unha bem aparada e limpa, imediatamente escondo meus dedos fechando as mãos em punho, lembrando que minhas unhas estão sujas por ter raspados os adesivos que Alicia colou no dossel de sua cama. Mas ele não está prestando atenção em mim, por isso, continuo a observá-lo. É a primeira vez que posso olhar para meu patrão de perto por tanto tempo. Vejo as veias saltadas no dorso de sua mão, subindo em direção ao pulso, escondendo-se por baixo do punho da camisa branca.
Por causa de sua posição, consigo ver o formato do seu braço musculoso, sigo com o olhar até os ombros largos. A gola da camisa está desabotoada, a gravata e o terno encontram-se jogados nas costas do sofá Chesterfield de couro também preto, que está na parede leste do escritório.
Posso ver um relance do seu peito pelo espaço aberto dos botões. Subindo o olhar pelo seu pescoço, observo sua mandíbula mais demoradamente, o nariz reto e, finalmente, os olhos de um verde profundo.
O senhor De La Roche continua com sua atenção voltada para o iPad, enquanto eu o observo sem ele perceber. É o homem mais importante, elegante e charmoso que já vi pessoalmente. O CEO da empresa mais requisitada no ramo de construções de Natal, capital do estado.
Tudo que sei é que Benjamin De La Roche herdou a empresa do pai há alguns anos e a administra com sucesso desde então. Mas Carol, a secretária e cozinheira da mansão, me disse que ele não gosta de ser chamado de Benjamin, apenas Ben.
Tirando os empregados, são apenas Benjamin e Alicia, sua filhinha de sete anos. Sua esposa morreu no parto e ele não voltou a se casar. Carol me disse que ele nunca namorou, pelo menos nunca trouxe ninguém em casa, jamais apresentou uma mulher para Alicia.
Mordo o lábio com força, não consigo me decidir se isso é bom ou ruim. Bom porque ele pode ser um homem de família, não do tipo de riquinho mimado e galinha, mas alguém que espera a pessoa certa. Por outro lado, torna-se quase impossível chegar até seu coração endurecido pelo luto.
Impossível chegar ao seu coração… Dou uma risadinha do meu pensamento, como se alguém como ele não me visse apenas como a babá de sua filha, alguém insignificante e substituível. Tento abafar uma risada mais alta com a mão sobre a boca, mas o senhor De La Roche me olha bem a tempo, colocando o celular sobre a mesa.
Desvio o olhar imediatamente, o rosto ardendo de vergonha pela gafe. Sinto seus olhos me analisando, mas não tenho coragem o suficiente para encará-lo de volta.
— O que foi? — pergunta, sua voz soa mais aveludada agora do que há poucos instantes ao telefone, o que me deixa ainda mais tensa.
— Desculpe, senhor, eu estava apenas me lembrando de algo que aconteceu pela manhã — digo cada palavra com cuidado, evitando falar qualquer gíria do interior, para que ele não me considere má influência para a educação de sua filha.
— Não precisa me chamar de senhor, por favor — diz com uma gentileza que eu não esperava de alguém como ele.
Ergo o olhar para encará-lo, mas seu charme me faz desviar rapidamente. Por dentro, a tensão toma conta de mim, por fora, tento parecer inabalável, usando meu autocontrole desenvolvido ao longo dos anos sob o olhar de um pai extremamente rígido e dominador.
— Desculpe, Ben — tento soar o mais centrada possível, mas parece errado chamá-lo assim, como se estivesse forçando uma intimidade que ele não me deu.
Ele parece não se importar, seus lábios se curvam em um sorriso torto e seu rosto se ilumina, como se ele gostasse de seu apelido na minha voz.
Como sou ridícula…
— Bem melhor, “senhor” me faz parecer muito mais velho — ele diz em tom de brincadeira. — Já termino essa ligação e podemos conversar, tudo bem?
— É claro — respondo, aliviada por não gaguejar.
Benjamin alcança o celular na mesa e volta a conversar com a pessoa do outro lado, parecem estar falando sobre o trabalho. Tenho menos de um minuto para me recompor, porque ele logo se despede da pessoa e desliga o celular.
— Desculpe pela demora, mas precisava resolver um problema da construtora antes de encerrar o dia — ele se explica, me deixando ainda mais encantada com sua gentileza.
Seu rosto ainda está iluminado, mas percebo que seus olhos não, como se ele carregasse algo que não consegue se livrar.
— Não precisa se desculpar. Alicia já está fazendo as tarefas — explico.
— Não gosto de tomar o tempo livre dos meus funcionários, mas não tivemos oportunidade de conversar desde que começou a trabalhar aqui.
Começo a pensar que ele ficou sabendo que vim para Natal fugida, que escapei de um noivado indesejado e que meu pai descobriu onde estou e está vindo me buscar.
— Não tivemos… — murmuro, abatida com a ideia de voltar para a casa dos meus pais e ter todos os meus sonhos roubados pelo casamento por conveniência com o filho do pastor.
Conveniência para eles, não para mim.
— Parece preocupada — Benjamin De La Roche me observa, o que só piora meu estado. — Precisa sair? Podemos conversar outra hora.
— Não, está tudo bem! — digo depressa. — Só estou com receio de o senh… voc… você me demitir. Eu estou amando trabalhar aqui, sua filha é um amor de menina, e também parece estar gostando de mim.
— Sim, Alicia está — ele admite. — Virgília, você é a garota com quem ela se adaptou mais rápido.
— Poderia me chamar apenas de Lia? — o pergunto, tendo a certeza que estou passando dos limites. — Quase ninguém me chama de Virgília, só o meu ex e isso me traz más lembranças.
Imagino que ele vai falar alguma coisa para me colocar no meu lugar, mas Benjamin apenas me dá outro sorriso torto.
— Te entendo, também não gosto que me chamem de Benjamin. Temos algo em comum.
— Temos — digo, relaxando os ombros, começando a confiar que ele não vai me demitir e não ficou sabendo da minha fuga e que minha família está me procurando feito louca.
Ele se levanta da sua poltrona e chega perto de mim, apoiando-se na mesa à minha frente. De pé, parece ainda mais elegante. Sinto o rastro do seu perfume amadeirado e posso até fantasiar como ele é sem as roupas.
O pensamento momentâneo me deixa quente, ardendo como se estivesse com febre. Meu coração bate mais rápido enquanto ele se move charmoso, trocando o peso de uma perna para a outra.
— Quantos anos tem, Lia?
Meu nome no seu tom de voz soa sensual, preciso morder o canto interno da bochecha e me lembrar de que ele é meu chefe, não é digno ter esse tipo de pensamento com ele.
— Vinte e dois — respondo o olhando com o queixo erguido, enterrando as unhas nas palmas das mãos para aguentar a tensão.
— A idade que eu tinha quando me casei. Poucos meses depois, Alicia nasceu. Luiza, minha esposa, estava grávida quando nos casamos — ele diz, fazendo parecer que somos íntimos.
Apesar da tensão que estou sentindo, parece fácil conversar com ele, pelo menos Benjamin não está fazendo eu me sentir inferior.
O que estou sentindo tem mais a ver com sua aparência, sua beleza, que com sua posição social. Ele em si me deixa nervosa, mas aposto que muitas outras garotas também se sentem assim perto de alguém como Benjamin De La Roche. Ele é gostoso, ponto.
…