Trecho do livro
Prólogo | Stuart.
O corredor da maternidade estava vazio. Era meio da madrugada e, além da conversa baixa das enfermeiras no posto próximo, eu não podia ouvir nada do outro lado das paredes. Debra estava dando à luz o nosso filho. Ela não me deixou participar do parto, pediu gritando que me afastasse e em seguida, seu advogado disse que eu deveria sair ou ele chamaria a polícia.
Andei de um lado ao outro, puxando meus cabelos e sentindo dor nos nós dos meus dedos, ainda feridos da minha última luta. As horas pareciam nunca passar. O parto mais longo da minha vida. Bati com meu punho na parede, depois com a cabeça e tentei não sucumbir à ansiedade.
As enfermeiras me olhavam e eu não podia me importar menos. A imprensa logo saberia, isso se já não estivessem do lado de fora querendo entrar e flagrar o momento de maior angústia da minha vida. Era para estar do lado dela, segurando sua mão e assistindo os primeiros segundos do meu filho fora da sua barriga.
— O bebê nasceu. — O advogado, merdinha engomadinho, se aproximou. — Ele é bem saudável. Debra não quer que você entre e como mãe, o hospital lhe dá o direito.
— Eu quero ver o meu filho.
Ele parecia em conflito ao falar. Soltou um suspiro.
— Infelizmente, não há nada que prove que o filho é seu e ela está irredutível. Se você contar, eu vou negar até a morte. Saia daqui e procure um advogado bom que possa acordar um juiz, te dar uma ordem de exame de DNA e assim você terá o direito de segurar seu filho.
— Ela não vai deixar que eu veja o bebê nem no berçário? — gritei, perdendo a cabeça. — É meu filho! Eu tenho direitos!
— Não adianta gritar comigo, você tem que recorrer à justiça. É a única maneira que poderá lutar contra ela. — O idiota falou e saiu.
Meu coração retumbava no peito enquanto era dilacerado. \Ti o meu bebê passar em uma incubadora e um segurança me impediu de seguir adiante, logo sendo acompanhado por outro, criando uma muralha. Ele chorava, estava vermelho, enrolado em uma manta e sendo empurrado por duas enfermeiras.
Toquei o vidro e prometi que aquela seria a única vez que ficaria afastado dele.
1 | Vanessa
Meu irmão vivia me dizendo para nunca acreditar em contos de fadas. Lembro que ainda pequena, quando ele mesmo lia as histórias da Disney para mim, reforçava que um romance como aquele não existia na realidade. Era difícil não acreditar em príncipes encantados, quando via minha melhor amiga passar pelo tapete vermelho, usando o vestido de noiva mais lindo do mundo e com um olhar de amor incrível.
Como não acreditar em contos de fadas quando Katrina e Devon estavam se casando em uma cerimônia tão linda? Katrina e Devon, preciso repetir? Os dois eram como cão e gato pela maior parte da minha vida, de repente, beberam, casaram e quase derrubaram a casa ao consumar o casamento.
Os dois protagonizaram um romance que nunca achei possível. Eram diferentes em tudo. Devon era quieto, Katrina falava pelos cotovelos, ambos competitivos e encontraram uma força no amor que me dava orgulho. Ver as duas pessoas que eu mais amava no universo se unindo, deixava o meu coração explodindo no peito.
Foi difícil conter minhas emoções. As lágrimas estavam escorrendo no meu rosto e Stuart, segurando nossa afilhada, Halley, me deu seu lenço. Aceitei sem graça, secando meu rosto e sorri para minha garotinha favorita. Ela me devolveu o sorriso, com os dedos na boca e voltou a olhar para os pais que se casavam no salão de eventos do hotel que era importante para o relacionamento deles.
Quando a cerimônia acabou, foi inevitável não ficar vermelha com Stuart oferecendo seu braço para seguirmos o cortejo final. Ser o par dele não era uma novidade, considerando que era o melhor amigo do noivo e eu, da noiva. Nós dois éramos amigos também, mas, depois que as coisas ficaram confusas no ano anterior, não consegui não me sentir um tanto envergonhada.
Fui na casa dele no meio da madrugada. Apesar de bom, tinha vontade de matar Katrina por me convencer. Foi importante para estreitar laços com ele, mas tudo se esfriou muito rápido e acabou fazendo com que me sentisse inadequada.
— Você está linda — Stuart cochichou, enquanto Katrina e Devon paravam para uma foto. — Esse tom de azul combina muito com você.
Sorri, corei e tentei não parecer uma garotinha afetada.
— Obrigada. Você está muito bem também. Mesmo todo babado… — Apontei para o fio de baba que Halley deixou escorrer para a roupa dele.
— Oficios de padrinho de todo jeito. — Secou a baba dela com habilidade.
Melanie se aproximou com os braços esticados, querendo pegar a neta e a levou sem falar nada. Mal tive tempo de reagir, logo fomos conduzidos para fotografar com os noivos na área externa. Katrina queria um álbum completo, já que apesar de ter se casado com Devon há mais de um ano, era a única festa de casamento deles.
— Preciso da sua ajuda! — Katrina me agarrou e saiu correndo, me levando junto. Comecei a rir e subimos para um dos quartos. — Meus peitos estão vazando e minha mãe sumiu com minha bezerra!
Rapidamente abri os botões atrás, descendo o zíper, ela já estava toda molhada. Pegou uma toalha e procurou a bomba de leite enquanto ligava para Mel subir com Halley para mamar.
— Se eu sentar, o vestido vai rasgar. — Voltou a rir. — Isso tinha que acontecer!
— O que houve? Por um momento, pensei que minha irmã estava fugindo com a minha mulher! — Devon entrou no quarto com Halley nos braços. — Está seminua? Não era com minha irmã e nossa filha que ímagineí te ver sem vestido.
— Cale-se. Eu preciso amamentar! — Katrina pegou Halley e a ajeitou no peito enquanto o outro seio já estava com a bomba. Era uma cena engraçada, o vestido na cintura, toalha pendurada nos ombros, um bebê que parecia uma bolotinha e uma coisa colada no seio saindo leite. — Se tirar uma foto, eu vou te matar.
Ergui meu telefone e tirei duas.
— Vou deixar vocês…
— Nada disso. Estou fugindo da zona de guerra para começar a beber. Esse casamento está sendo multo caro para desperdiçar… — Devon foi se retirando do quarto. — Tenho uma aposta para ganhar. — Sorriu torto e fechou a porta a tempo ou ganharia uma escova na cabeça. A maternidade deu um pouco de mira para Katrina, ou o casamento. Devon a irritava tanto que melhorou suas habilidades.
— Vocês fizeram uma aposta?
— Claro, ou não teria graça nenhuma. — Katrina sorriu. Halley soltou o peito, com um olhar sonhador de quem estava em coma de leite. Peguei-a, limpando a boca e acariciando as costas, enquanto sua mãe tentava se ajeitar novamente.
Minha sobrinha deitou a cabecínha no meu ombro, provavelmente exausta e dando sinais de que logo tiraria um cochilo. Com tantos braços ansiosos para segurá-la na festa, isso não seria um problema. Katrina precisou de ajuda para fechar o vestido, renovada, com seios vazios, novos absorventes de amamentação e a maquiagem retocada.
No elevador, Halley me deu um sorriso e seus olhos arregalaram quando bateram nos meus brincos. Não fui ágil o suficiente para segurar sua mãozinha. Ela agarrou e puxou junto com meu cabelo, tirando os fios do penteado. Soltei um gritinho e fui me inclinando, tentando desembolar seus dedos. Katrina me salvou do ataque. Nossa bolotinha amava puxar cabelos, brincos e cordões.
— Não pode, Halley! — Katrina castigou, mas a menina sorriu, ignorando.
Retornamos para a festa e a primeira pessoa que encontramos foi Everly. Ela estava muito linda em um vestido magenta e um corpo de parar o trânsito. Abrindo um sorriso para Halley, que fez gracinha, ela olhou para Katrina.
— Pode dizer que sou a noiva mais linda que já viu.
— Nunca nessa vida, no entanto, eu digo que essa menininha é a dama de honra mais fofa do mundo. E a mais bonita também. — Everly arrulhou para Halley, que abriu um sorrisão quase desdentado. — A boquinha cheia de leite.
— Com isso eu não posso retrucar. Ela é perfeita. — A mãe derreteu.
As duas nunca iriam parar de implicar uma com a outra. A cerimonialista encontrou Katrina, levando-a para o salão. Melanie apareceu e pegou Halley para fazer algumas fotos. Everly me convidou a pegar uma bebida no bar, então ajeitei meu cabelo que minha sobrinha fez a gentileza de bagunçar.
Ela pediu uma taça de espumante e eu um drinque colorido com gin que o barman ofereceu.
— Trouxe algum acompanhante? — Fiz conversa.
— Não. Até pensei se seria horrível aparecer no casamento do meu ex sozinha, mas decidi que não precisava convidar um primo ou amigo só para não parecer desesperada. — Sorriu e olhou ao redor. — Além do mais, tem muitos homens bonitos aqui. Sabe se Stuart está solteiro?
Quase me engasguei. Everly era o tipo de mulher que sabia o seu lugar no mundo. Certo, o corpo havia passado por algumas plásticas, mas era lindo. Cheio de curvas. Ao lado dela, eu parecia uma garota. Ganhei peso, um formato agradável de bunda depois que comecei a malhar, mas não se comparava. Se ela investisse, será que Stuart cederia? Afinal, Everly ficou com meu irmão, mas homens…
Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros. Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever originais. Em 2019 iniciou sua carreira como autora profissional e hoje possui duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e Honra, dezessete livros publicados e alguns milhares de leituras acumulados. Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance Perigoso Amor – Poder & Honra.