PRIMEIRO VOLUME DA TRILOGIA BEVELSTOKE. Julia Quinn já vendeu mais 1 milhão de livros pela Editora Arqueiro. "O timing perfeito de Julia Quinn para o humor permanece intacto. Este romance bem-escrito, divertido e delicado é diversão garantida." – Publishers Weekly Aos 10 anos, Miranda Cheever já dava sinais claros de que não seria nenhuma bela dama. E já nessa idade, aprendeu a aceitar o destino de solteirona que a sociedade lhe reservava. Até que, numa tarde qualquer, Nigel Bevelstoke, o belo e atraente visconde de Turner, beijou solenemente sua mãozinha e lhe prometeu que, quando ela crescesse, seria tão bonita quanto já era inteligente...
Capa comum: 288 páginas Editora: Editora Arqueiro; Edição: 1 (13 de janeiro de 2020) Idioma: Português ISBN-10: 8530601084 ISBN-13: 978-8530601089 Dimensões do produto: 22,8 x 15,8 x 2 cm Peso de envio: 340 g
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Prólogo
Aos 10 anos, Miranda Cheever não dava o menor sinal de que seria uma beldade. Seus cabelos eram castanhos — lamentavelmente —, assim como os olhos, e as pernas, peculiarmente longas, recusavam-se a aprender qualquer movimento que chegasse perto de ser gracioso. Sua mãe, com certa frequência, observava que ela percorria a casa a meio galope.
Para infelicidade de Miranda, a sociedade em que nascera dava demasiada importância à aparência feminina. E, embora ela só tivesse 10 anos, já entendia muito bem que, naquele aspecto, era considerada inferior à maioria das meninas que moravam nas redondezas.
Crianças sempre dão um jeito de aprender certas coisas, em geral através de outras crianças. Foi justamente assim que ocorreu um incidente deveras desagradável na comemoração do 11º aniversário de lady Olivia e do honorável Winston Bevelstoke, gêmeos do conde e da condessa de Rudland. Miranda morava bem perto de Haverbreaks, a propriedade ancestral dos Rudlands próxima a Ambleside, na região da Cúmbria, e sempre assistia às aulas junto com Olivia e Winston quando os dois estavam naquela residência. Haviam se tornado um trio inseparável que quase nunca se dignava a ir brincar com as outras crianças da região, que moravam a cerca de uma hora de distância.
Mas umas dez vezes por ano, geralmente em aniversários, todas as crianças da nobreza e da aristocracia local se reuniam. E foi por isso que lady Rudland soltou um grunhido nada feminino: a festa de aniversário dos gêmeos, que deveria ser no jardim, acabara de ser interrompida pela chuva e, naquele momento, dezoito pestinhas com os pés cobertos de lama corriam pelo salão.
— Livvy, você está com o rosto sujo de lama — comentou Miranda, estendendo a mão para limpar.
Olivia soltou um suspiro dramático e entediado.
— Então é melhor que eu vá me limpar. Não quero que mamãe me veja assim. Ela acha sujeira deplorável, e eu acho deplorável ter que ouvir suas reclamações sobre como ela acha a sujeira deplorável.
— Não vejo como ela poderia ter tempo de brigar com você por causa de um pingo de lama no seu rosto com toda essa sujeira no tapete. — Miranda olhou para William Evans, que soltou um grito de guerra e se lançou no sofá. Ela contraiu os lábios para reprimir um sorriso. — E na mobília também.
— Ainda assim, acho melhor eu ir dar um jeito — disse Livvy, e saiu.
Perto da porta, Miranda passou alguns minutos acompanhando a comoção, satisfeita com o papel de observadora que sempre reservava para si, até que, com o canto dos olhos, notou que alguém se aproximava.
— Miranda, o que você trouxe de presente para Olivia?
Miranda se virou para encarar Fiona Bennet, muito bem arrumada em um vestido branco com faixa rosa.
— Um livro — respondeu ela. — Olivia gosta de ler. E você, o que trouxe?
Fiona mostrou uma caixa colorida amarrada com um barbante prateado.
— Uma coleção de fitas. Seda, cetim e até veludo. Quer ver?
— Ah, mas não quero estragar o embrulho.
Fiona deu de ombros.
— É só desamarrar o barbante com bastante cuidado. Faço isso todo Natal — disse, desatando a amarra e abrindo a caixa. Miranda perdeu o fôlego. Havia no mínimo duas dúzias de fitas acomodadas no veludo preto da caixa, todas amarradas em forma de belos laços.
— Fiona, são lindas! Posso pegar uma delas? Fiona estreitou os olhos com desconfiança.
— Não estou com as mãos sujas. — Miranda estendeu as mãos para que a outra menina as inspecionasse. — Viu?
— Ah, está bem.
Miranda pegou uma fita lilás. O cetim era pecaminoso de tão suave e macio. Toda coquete, ela levou o laço aos cabelos.
— O que acha?
Fiona revirou os olhos.
— Lilás não, Miranda. Todo mundo sabe que essa cor só serve para cabelos louros. O tom quase desaparece no castanho. Você definitivamente não deveria usar.
Miranda devolveu a fita.
— E que cor fica bem com cabelos castanhos? Verde? Minha mãe tem cabelos castanhos e eu já a vi usando laços dessa cor.
— Até que verde é aceitável. Mas acho que também fica melhor em cabelos louros. Tudo fica melhor em cabelos louros.
Miranda sentiu uma faísca de indignação se acender dentro dela e disparou:
— Bom, então eu não sei como você vai lidar com isso, Fiona, porque seu cabelo é tão castanho quanto o meu.
Ofendida, Fiona recuou.
— Não é, não!
— É, sim!
— Não é, não!
Miranda inclinou-se para a frente, estreitando os olhos de maneira ameaçadora.
— Acho bom você dar uma bela olhada no espelho assim que chegar em casa, Fiona, porque o seu cabelo não é nada louro.
Fiona devolveu a fita lilás para a caixa e fechou a tampa com força.
— Bem, pelo menos o meu já foi louro, enquanto o seu sempre foi isso aí. Além disso, meu cabelo é castanho-claro, e todo mundo sabe que castanho-claro é muito melhor do que castanho-escuro. Tipo o seu.
— Não há nada errado com cabelo castanho-escuro! — protestou Miranda.
Mas ela já sabia que a maior parte da Inglaterra discordava disso.
— Além do mais — acrescentou Fiona, maliciosamente —, você tem lábios grossos!
Na mesma hora, Miranda levou a mão à boca. Sabia que não era uma beldade. Sabia que não podia sequer ser chamada de bonitinha. Mas jamais tinha visto nada errado com sua boca. Ergueu os olhos para a outra garota, que tinha um sorriso triunfante no rosto, e gritou:
— Pior você, que tem sardas!
Fiona recuou como se tivesse levado um tapa.
— Sardas somem. As minhas vão sumir antes de eu completar 18 anos. Minha mãe passa suco de limão toda noite. — Ela fungou de forma desdenhosa. — Mas o seu caso, Miranda, não tem remédio. Você é feia.
— Não é, não! — exclamou uma terceira voz.
Ambas as meninas se viraram e deram de cara com Olivia, que voltava do toalete.
— Ah, Olivia — disse Fiona. — Sei que você é amiga da Miranda porque ela mora muito perto de você, e porque fazem aulas juntas, mas você tem que admitir que ela não é muito bonita. Minha mãe diz que ela nunca vai arruinar um marido.
Os olhos azuis de Olivia brilharam de forma ameaçadora. A única filha do conde de Rudland sempre fora extremamente leal, e Miranda era sua melhor amiga.
— Miranda vai encontrar um marido muito melhor do que o seu, Fiona Bennet! O pai dela é baronete, e o seu não tem título algum.
— Ser filha de baronete não faz a menor diferença se ela não é bonita nem rica — recitou Fiona, repetindo algo que haveria de ter escutado várias vezes em casa. — Que é o caso da Miranda.
— Cale a boca, sua chata! — exclamou Olivia, batendo o pé no chão. — Você está na minha festa de aniversário, e se não consegue ser agradável com os outros, é melhor ir embora!
Fiona engoliu em seco. Sabia muito bem que não deveria se indispor com Olivia, filha de integrantes da mais alta nobreza naquela região.
— Desculpe, Olivia — murmurou ela.
— Não é a mim que você deve desculpas. É à Miranda.
— Desculpe, Miranda.
Miranda ficou em silêncio até que Olivia, enfim, deu um chutinho nela.
— Desculpas aceitas — disse ela, de má vontade.
Fiona assentiu e saiu correndo.
— Nem acredito que você chamou Fiona de chata — comentou Miranda.
— Miranda, você tem que aprender a se defender.
— Eu estava me defendendo muito bem antes de você aparecer, Livvy. A diferença é que eu não estava me defendendo tão alto quanto você.
Olivia suspirou.
— Mamãe sempre diz que eu não tenho um pingo de bom senso e autocontrole.
— Não tem, mesmo — concordou Miranda.
— Miranda!
— Mas é verdade. E eu amo você assim mesmo.
— Eu também amo você, Miranda. Não se preocupe com a chata da Fiona. Quando você crescer, pode se casar com o Winston, e aí nós seremos irmãs de verdade.
Descrente, Miranda olhou para o outro lado do salão e viu Winston. Ele estava puxando o cabelo de uma garotinha.
— Não sei, não… — disse ela, hesitante. — Não sei se vou querer me casar com Winston.
— Não fale bobagem. Seria perfeito. Além do mais, veja só, ele acabou de derrubar ponche no vestido da Fiona.
Miranda não conteve um sorriso.
— Venha comigo — chamou Olivia, tomando a mão da amiga. – Quero abrir meus presentes. Prometo que vou dar o grito mais alto de todos quando abrir o seu.
As duas meninas voltaram ao salão e Olivia e Winston foram abrir os presentes. Graças aos céus (pelo menos na opinião de lady Rudland), terminaram às quatro em ponto, a hora em que as crianças deveriam voltar para casa. Nenhuma delas foi buscada por criados; um convite para ir a Haverbreaks era considerado uma honra e nenhum dos pais perderia a oportunidade de socializar com o conde e a condessa. Nenhum dos pais, exceto os de Miranda. Às cinco da tarde, ela ainda estava na sala de estar, avaliando o butim de aniversário junto com Olivia.
— Onde será que estão seus pais, Miranda? – perguntou lady Rudland.
— Ah, eu sei muito bem – respondeu Miranda, alegremente. – Mamãe está na Escócia, foi visitar a mãe dela. E papai, por sua vez, certamente se esqueceu de mim. Ele costuma se esquecer de mim, sabe?, quando está trabalhando em um manuscrito. Ele traduz do grego.
— Eu sei — disse lady Rudland sorrindo.
— Grego antigo.
— Eu sei — repetiu lady Rudland com um suspiro. Não era a primeira vez que sir Rupert Cheever se esquecia da filha. – Bem, temos que dar um jeito de levar você para casa.
— Eu vou com ela – sugeriu Olivia.
— Você e Winston têm que guardar os brinquedos novos e escrever seus bilhetes de agradecimento. Se não fizerem isso ainda hoje, logo vão esquecer quem deu o quê.
— Mas a senhora não pode mandar um criado levar Miranda para casa, mamãe. Ela não vai ter com quem conversar.
— Eu posso conversar com o criado — disse Miranda. — Em casa eu sempre converso.
— Com os nossos você não conseguiria — sussurrou Olivia. — Eles são todos engomados e só me olham com desaprovação.
— Na maior parte do tempo, você faz por merecer — interferiu lady Rudland, dando uma palmadinha afetuosa na cabeça da filha. — Farei melhor, Miranda. Por que não pedimos ao Nigel que leve você em casa?
— Nigel! – exclamou Olivia, com a voz esganiçada. — Miranda, sua sortuda.
Miranda ergueu as sobrancelhas. Ainda não conhecera o irmão mais velho de Olivia.
— Pois bem – disse ela, lentamente. — Será um prazer conhecê-lo enfim. Você fala tanto dele, Olivia.
Lady Rudland pediu que uma criada fosse chamá-lo.
— Miranda, você ainda não o conhece? Que estranho. Bem, na verdade, até que faz sentido. Ele só vem para casa no Natal e você sempre passa as festas na Escócia. Eu tive que ameaçar deserdá-lo para que ele viesse para o aniversário dos gêmeos. E ainda assim ele se recusou a participar da festa, com medo de que uma das mães viesse tentar casá-lo com uma fedelha de lo anos.
— Nigel tem 19 anos e é um ótimo partido — declarou Olivia. — É visconde, e é muito bonito. Ele é igualzinho a mim.
— Olivia! — repreendeu lady Rudland.
— Ora, mas é verdade, mamãe. Se eu fosse um garoto, também seria muito bonito.
— Você já é bonita sendo menina, Livvy. — Apesar de sua lealdade à amiga, Miranda olhou com uma pontinha de inveja para os cabelos louros dela.
— Você também é. Olhe, pode escolher uma das fitas que a Fiona me deu. Eu não preciso de tantas.
Miranda sorriu. Olivia era mesmo uma ótima amiga. Ela olhou para os laços e, com certa perversidade, escolheu o de cetim lilás.
— Obrigada, Livvy. Vou usar a fita na segunda-feira mesmo, para a nossa aula.
— Mãe, a senhora mandou me chamar?
Ao som daquela voz grave, Miranda olhou para a porta e quase perdeu o fôlego. Lá estava a criatura mais esplêndida em que ela já pusera os olhos. Obvia dissera que Nigel tinha 19 anos, mas Miranda reconheceu na mesma hora o homem que ele já era. Os ombros maravilhosos eram largos e o restante do corpo era esbelto e firme. Os cabelos eram mais escuros que os de Olivia, mas ainda tinham reflexos dourados, queimados de sol, sinal de que passava muito tempo ao ar livre. Mas Miranda decidiu na mesma hora que o melhor nele eram os olhos muito, muito azuis, como os de Olivia. Ele também dava aquelas piscadinhas maliciosas.
Miranda sorriu. A mãe dela sempre dizia que dava para saber como uma pessoa era pelos olhos, e o irmão de Olivia tinha olhos fantásticos.
— Nigel, você nos faria a gentileza de acompanhar Miranda de volta para casa? — perguntou lady Rudland. — Parece que o pai dela ficou preso em algum outro compromisso.
Miranda ficou se perguntando por que ele se encolhera quando ela dissera o nome dele.
fim da amostra…