Livro ‘$ócio do filho’ por Marco Vitale

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Sócio do Filho conta os detalhes dos negócios milionários que envolveram o filho do ex-presidente Lula e os seus sócios. Ninguém sai inocente do relato de Sócio do Filho. Saqueados e saqueadores locupletaram-se todos. O sócio Jonas Suassuna, dono do Grupo Gol, associou-se ao filho (do ex-presidente Lula), Fábio Luís Lula da Silva para, com os irmãos Kalil e Fernando Bittar, formarem o que o autor deste livro definiu como a Quadrilha Gol. De 2008 a 2016 eles promoveram repetidos assaltos aos cofres públicos usando como arma a influência política do ex-presidente. É disso que trata este livro. Em prosa despida de preciosismos, Marco Vitale deixa-se guiar pela soberania dos fatos para compor uma obra que alia o relato das maracutaias que vicejaram à sombra do Grupo Gol aos faits divers no entorno de seus personagens.

Páginas: 216 páginas; Editora: Marco Vitale; Edição: 1ª (1 de janeiro de 2018); ISBN-10: 8592368308; ISBN-13: 978-8592368302; ASIN: B07JMWV4PW

Leia trecho do livro

“Prefira dizer a verdade e ficar mal com os homens a mentir e vir a ficar mal com Deus.”
(Cid Noreira)

Dedicatória

Dedico este livro às minhas quatro filhas: Amanda, Giovana, Letícia e Clara, Com esperança de que no futuro o Sócio do Filho não seja mais o retrato do país em que elas vivem.

Gratidão

A gratidão é um sentimento de amor e conexão com Deus. É acima de tudo a Ele que agradeço.

Sócio do Filho me revelou rostos amigos, poucos, mas bastantes para me fortalecer e fazer perseverar na escrita destas páginas, um documento da corrupção que macula a história recente do país.

Agradeço a minha família que, embora preocupada, compreendeu as horas dedicadas a pesquisas, investigações e textos muitas vezes reescritos.

A Manasses Andrade, um irmão e artista plástico, que cedeu a sua obra para ilustrar a capa desse livro.

A Janir Holanda, jornalista, a cuja experiência profissional muito deve esta obra.

A Gabriel Soares pela revisão dos originais, palavras amigas e pelo prefácio desta edição.

Na reta final, felicidade em conhecer Sergio Felipe, um incrível parceiro e talento na editoração.

Destaco o trabalho jornalistico serio realizado por Ítalo Nogueira, da Folha de S. Paulo, e Claudio Dantas, do Antagonista. Suas reportagens foram fontes preciosas para este trabalho.

A Jacó por seus inigualáveis almoços servidos para para os que me vistaram durante esse quase retiro.

Finalmente, a Lovely, minha collie, que me fez companhia em intermináveis noites de trabalho.

Nota do autor

O jornalista é o historiador do presente. Recorro a esta afirmação para definir o Sócio do Filho como uma grande reportagem. Ela cobre os anos de 2009 a 2016, nos quais Fábio Luis Lulinha da Silva usou a influencia política do pai, o ex-presidente Lula, para fazer fortuna ao lado dos sócios Jonas Suassuma, dono do Grupo Gol, e Kalil e Fernando Bittar. Não interpretei, não julguei e cuidei para que minhas convicções não interferissem no curso editorial do livro. Prevaleceu  a soberania dos fatos — o que vi e ouvi –, ilustrados por documentos inéditos que expõem a gênese das ações criminosas aqui relatadas. 

Prefácio

“A luta do homem contra o poder é a luta
da memória contra o esquecimento.”
Milian Kundera

Em nosso país, a corrupção não é exclusividade de empresas, partidos políticos e instancias governamentais, mas uma característica endêmica de uma sociedade que insiste em fetiches de esperteza, vantagem e benefício de pares. O Sócio do filho, quase um exercício de micro-historia brasileira, contribui no debate contra o ideário vil “pequenos e grandes atos corruptos”, que apenas servem para aprofundar as mazelas sociais da nação.

Num país em que a figura do “cidadão do bem” e tão mitológica quanto a do “político honesto”, cabe-nos seguir a recomendação de Cícero, Maquiavel e tantos outros: nos munir da História, assimilar seus erros e acertos, assumir nossa cota de responsabilidade e atuar de forma eficaz na construção de uma república que faça jus ao nome.

Maquiavel em várias obras além de O Principe, como Discursos e Histórias Florentinas, afirma que a humanidade sempre esteve mais ou menos no mesmo estagio e somente o estudo profundo do passado, aliado ao diálogo, debate e prospecção do presente, permite a uma nação se libertar dos erros cometidos pelos governantes no poder. A motivação de Marco Vitale ao trazer Sócio do filho à luz alinha-se essas missão quase pedagógica.

Embora não seja mais historiográfica, a famosa lição de Cícero da “História, mestra da vida” é vital na formação política e histórica de cada cidadão, principalmente se levarmos em conta os interesses escusos e individuais que sempre foram um entrave a civilizações mais igualitárias e socialmente justas.

Em países como o Brasil, que tem um interesse plutocrático em manter desigualdades para subsidiar sues pares, sempre se caminhou politicamente na parte única da areia para a próxima onda apagar rastros do percurso. E se por ventura algum indício fica , queima-se a história viva — por negligência ou crime —  e passa-se por cima de quem, e do que, preciso for. Um maquiavelismo forjado vale mais que o original.

A experiência jornalística do autor, num relato livre de agendas editorias e financiamentos duvidosos, documenta sete anos de convívio no coração do Grupo Gol, uma empresa que servia de palco para um teatro do absurdo. O leitor encontrará aqui uma obra corajosa de um fotógrafo, jornalista e cidadão consciente de seu papel. É uma narrativa imparcial de fatos vividos e presenciados para que não sejam apagados e esquecidos.

Marco Vitale faz uma contribuição cívica importante ao relatar  de forma voluntária às autoridades tudo o que viu e ouviu. O sócio de Filho é um novo passo nessa direção. Sua narrativa mostra de forma clara, envolvente, como stricto sensu, o Grupo Gol e seus associados conduziram “negócios”, deixando na mente do leitor, lato sensu, uma nítida ideia dos bastidores do “fazer política” no Brasil. São revelações estarrecedoras, com cifras milionárias, de mau uso dos recursos públicos e de desmandos políticos. É o que ocorre enquanto os homens exercem seus podres poderes.

Rio de Janeiro, setembro de 2018

Gabriel Soares de Souza
(professor, revisor e Life Coach, atua de forma independente em atividades de extensão cultural e científica)

“Vou de dar um tiro na testa”

Um circo chamado Gol. Uma aldeia de caciques. O que vi e ouvi durante meus sete anos no Grupo Gol. Como descobri e por que decidi revelar os bastidores das negociatas promovidas por Lulinha e sua trupe. Ameaças veladas e explícitas. Quem sou eu.

Eu sou o dono da testa que continua sob ameça de um tiro. Chamo-me Marco Vitale, 49 anos, jornalista e acima de tudo, fotógrafo. Para o objetivo deste livro, comecei a existir em 2009 quando entrei para o Grupo Gol de Jonas Suassuna. Já o conhecia. Eu era gerente de marketing da Folha de S. Paulo, onde entrei em 1992. Meu trabalho também abrangia os jornais Folha da Tarde e o saudoso Notícias Populares. Certa vez, fui chamado para conhecer um publicitário carioca que tinha os direitos dos hinos dos principais clubes de futebol do Brasil. Levava a ideia de lançá-los em CDs por meio dos jornais como produto agregado. Era Jonas Suassuna. O resultado de vendas na Folha da Tarde e notícias Populares foi bom, nada mais do que isso, mas tornou-se o embrião de um projeto cujo sucesso seria contado em milhões de reais.

Na época Cid Moreira havia gravado o Novo Testamento, com vendas realizadas principalmente pela TV em programas populares. Sugeri — estamos, então, em 1998 — que fizéssemos o mesmo com a Bíblia e Suassuna se encarregou de contratar Cid Moreira. A novidade é que pela primeira vez os CDs da Bíblia seriam vendidos como produtos agregados a jornais. Sucesso imediato em São Paulo e conquistou o Brasil. Suassuna ficou milionário e quando lhe era conveniente, me concedia o mérito de autor da ideia. Só voltei a encontrá-lo em 2009. Fui à empresa dele, a Gol, que não tem relação a companhia aérea de mesmo nome, com uma ideia que não prosperou,mas acabei contratando para desenvolver projetos mobile para jornais, que teriam o conteúdo disponibilizado em smartphones e tablets.

Logo percebi que a empresa tinha despesas incompatíveis com seus negócios conhecidos. A conta simplesmente não fechava: uma estrutura de luxo em um prédio na barra da tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, uma equipe de executivos bem remunerada — uma aldeia de caciques, todos em cargos de direção, e uns poucos índios. Motoristas particulares, almoços de diretoria carros, em que colocar a empresa e seus negócios sob suspeição.

Suassuna, que controlava as pessoas a seu redor com dinheiro e o poder que acreditava possuir, sempre me tratou com respeito e isso significava ser poupado dos gritos e palavrões que costumava dirigir a outros diretores. Gritar sempre foi característica dele. Gritava por tudo e por nada. Ora imprecava por causa de uma conta de R$ 20 mil de táxi de de seus sócios Fábio Luís e Kalil Bittar que a gol devia pagar, ora ameaçava genericamente qualquer um que pensasse em prejudica-lo.

Ele não poupava esforços para se manter onipresente dentro e fora do Grupo Gol. Uma de suas estratégias era manter-se próximo dos veículos de comunicação, oferecendo-lhes em permuta de anúncios publicitários o desenvolvimento de aplicativos mobile para smartphones e tablets. Dessa forma, fortalecia o portfólio da Gol Mobile e criava a imagem de uma empresa fornecedora de tecnologia para grandes grupos de mídia. Tinha medo que a imprensa viesse a descobrir contratos nebulosos como os firmados com a Oi, seus negócios de fachada de milhões de reais intermediados pelos sócios Fábio Lulinha da Silva, Kalil e Fernando Bittar, sempre por meio do uso da influência política do ex-presidente Lula.

Quando chego à Gol em 2009, Suassuna já era sócio do Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e dos irmãos Kalil e Fernando Bittar. Convivi com Fábio, Kalil e Fernando de forma harmoniosa. O Kalil tinha problemas de relacionamento com outros diretores, não gostava deles, sentimento que era recíproco. Na Gol não havia negócios sendo realizados, mesmo assim a empresa era rica. Todos sabiam que existia uma rotina de reuniões de Suassuna, Fábio, Kalil e Fernando Bittar com Luiz Eduardo Falco, então presidente da Oi. A Gol tinha contratos vultosos com essa operadora de telefonia, mas não se sabia para que prestação de serviços. Certo dia, um dos diretores me alertou: “Marco, você sabe que é o otário da vez? Aqui não é para fazer negócios. Aqui é para alugar a bunda. Ficar sentado e mostrar que tem história e sucesso profissional para contar.” Éramos vacas de presépio para Suassuna exibir para visitas. Executivos de alto nível a serviço dele.

Um discurso de moralidade, interpretado por Suassuna — “não queremos negócio com estatais!” — era a exceção numa empresa cuja regra seguia a máxima “locupletemo-nos todos”. O projeto Conexão Educação de 2009, com o governo do estado do Rio de Janeiro (Sérgio Cabral), por exemplo — detalhado em outro capítulo — gerou R$ 93,7 milhões para a Oi e um repasse estimado em mais de R$ io milhões para a recém-criada Gol Mobile. Nessa época o Grupo Gol tinha mais dois contratos com a Oi: um deles com a Goal Discos e outro com a Gol Mobile, que geraram R$ 52,4 milhões até 2013. Os objetos dos contratos eram subterfúgios para justificar sua assinatura e nunca se registraram para a Oi resultados financeiros compatíveis com o negócio.

O ambiente na Gol parecia a exibição de um espetáculo de variedades. Um circo em que o bufão Suassuna circulava contando suas vantagens, dirigentes fingiam que trabalhavam e, para quebrar a rotina, os corredores às vezes serviam como octógono de MMA. Roberto Bahiense — diretor responsável pela Nuvem de Livros — e Kalil Bittar mais de uma vez enfrentaram-se a socos. Percebo que aquilo ia virar um inferno quando a imprensa começa a devassar a sociedade de Suassuna com Fábio Luís e os irmãos Bittar.

O apartamento em que morava Fábio Lulinha da Silva, nos Jardins, em São Paulo, era então um complicador. Suassuna, locatário de fato, o “emprestara” ao sócio, filho de Lula, que depois se mudou para um apartamento comprado por Suassuna e avaliado em R$ 7 milhões. Em todo caso, este era apenas um detalhe a mais num grande imbróglio. A sociedade deles abrigava negócios suspeitos em que faturamentos não tinham a contrapartida de entregas de produtos e serviços. Foram contratos de fachada obtidos por meio da influência política do então presidente Lula.

Era tarde, não havia como reparar os malfeitos. O cerco aperta. A Operação Lava Jato está nas ruas e Suassuna demonstra insegurança e apreensão. Também perdera a confiança nos sócios, pois suspeitava que agiam sem sua participação em outros negócios. A sociedade, tornada inviável, encerra-se em 2015.

No dia 4 de março de 2016 deflagra-se a Operação Aletheia. Lula é levado coercitivamente para depor. Com uma ordem de busca e apreensão a Polícia Federal chega à Gol e a casa de seu dono. Um fato a mais no seu temor de ser preso, desde que as suspeições se agravaram por ser um dos proprietários do sítio de Atibaia. É um empresário acuado, inseguro, quem me chama: “Marco, eu preciso que você monte uma empresa, uma plataforma de Ensino a Distância. Um novo negócio porque vou fechar a Gol. Vou mandar estes filhos da puta todos embora. Preciso de um novo caminho.” Seu objetivo era me tirar da empresa. Eu não precisava mais ir à Gol, mas continuaria recebendo meu salário.

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