Livro ‘Guerra’ por Louis-Ferdinand Céline

"War", de Louis-Ferdinand Céline, retrata a jornada de Ferdinand, um soldado ferido na Primeira Guerra Mundial, explorando os traumas físicos e emocionais do combate.

Neste romance inédito situado entre a autobiografia e a fabulação, Céline examina a experiência central da sua existência: o trauma da guerra. “Guerra” é um romance inédito até 2022, escrito aproximadamente dois anos após “Viagem ao fim da noite”. Ele narra a jornada de Ferdinand, um soldado ferido na Primeira Guerra Mundial. Após despertar em um cenário devastador de cadáveres de seus camaradas, Ferdinand é levado ao hospital de Peurdu-sur-la-Lys. Lá, interage com personagens como a enfermeira L’Espinasse e o cafetão Bébert. O livro segue sua recuperação, confrontando os impactos físicos e psicológicos da guerra, até sua fuga para Londres. A edição inclui introdução de François Gibault, imagens do manuscrito original, análises literárias, lista de personagens e notas explicativas por Pascal Fouché.

Editora: ‎Companhia das Letras; 1ª edição (2 julho 2024); Páginas: ‎160 páginas; ISBN-13: 978-8535937428; ASIN: B0D42LN7B9

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Biografia do autor: Louis-Ferdinand Céline nasceu em 1894 perto de Paris e faleceu em 1961. No Brasil, algumas de suas obras foram lançadas pela editora Nova Fronteira, incluindo “Morte a Crédito” (1982) e “Norte” (1985), e pela Companhia das Letras, como “Viagem ao Fim da Noite” (1994, 2009), “A Vida e a Obra de Semmelweis” (1998) e “De Castelo em Castelo” (2004).

Resenha:

“Guerra”, obra póstuma de Louis-Ferdinand Céline, recentemente descoberta e publicada, é um mergulho visceral e cru na Primeira Guerra Mundial. Através dos olhos de Ferdinand, um jovem soldado gravemente ferido, o leitor é confrontado com a brutalidade e o caos da guerra, narrados em primeira pessoa com a prosa crua e impactante que caracteriza Céline.

A escrita de Céline é como uma rajada de metralhadora: frases curtas, ritmo frenético, transmitindo a urgência e o desespero do protagonista. As descrições da violência são gráficas e perturbadoras, como a cena em que Ferdinand, atordoado e ensanguentado, se arrasta por um campo de batalha repleto de corpos mutilados. Céline não poupa o leitor do horror da guerra, mergulhando-o nas entranhas da barbárie.

A obra possui um caráter autobiográfico marcante. Céline, que serviu como soldado na Primeira Guerra Mundial e foi ferido em combate, utiliza suas próprias experiências como matéria-prima para a narrativa. Essa proximidade com os eventos retratados confere ao livro uma autenticidade e uma força inegáveis. As dores físicas e psicológicas de Ferdinand ecoam as do próprio autor, que carregou as cicatrizes da guerra por toda a vida.

No entanto, “Guerra” vai além do relato das atrocidades do conflito. A obra explora temas profundos e complexos, como o trauma psicológico, a fragilidade da memória, a perda da identidade e a busca por sentido em um mundo devastado. Através da jornada de Ferdinand, Céline questiona a natureza humana e a capacidade de encontrar esperança em meio à destruição. O protagonista, assombrado pelas lembranças da guerra, busca refúgio em bordéis e no álcool, tentando em vão apagar as marcas do trauma.

A recepção da obra tem sido controversa, como aliás é comum com a obra de Céline. Alguns críticos celebram a escrita crua e poderosa do autor, sua capacidade de retratar o horror da guerra de forma visceral e autêntica. Outros, no entanto, questionam a pertinência de publicar uma obra póstuma de um autor conhecido por suas visões antissemitas, expressas em outras obras. A sombra do passado de Céline paira sobre “Guerra”, gerando debates acalorados sobre a separação entre o artista e sua obra.

Independentemente da controvérsia, “Guerra” é um livro impactante e que provoca reflexões importantes sobre a guerra e seus efeitos sobre a humanidade. A obra nos obriga a confrontar a brutalidade do conflito e a buscar esperança em meio à destruição, questionando a nossa própria humanidade e a capacidade de encontrar sentido em um mundo marcado pela violência.


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