Maior fenômeno de poesia dos EUA na última década, há mais de 40 semanas no topo das listas de best-sellers. Outros jeitos de usar a boca é um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o amor, a perda e a feminilidade. O volume – publicado nos EUA como “milk and honey” – é dividido em quatro partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente. Lida com um tipo diferente de dor. Cura uma mágoa diferente. Outros jeitos de usar a boca transporta o leitor por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de tirar delicadeza deles. Publicado inicialmente de forma independente por Rupi Kaur, poeta, artista plástica e performer canadense nascida na Índia – e que também assina as ilustrações presentes neste volume –, o livro se tornou o maior fenômeno do gênero nos últimos anos nos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos.
Páginas: 208 páginas Editora: Planeta; Edição: 1 (1 de fevereiro de 2017) ISBN-10: 8542209303 ISBN-13: 978-8542209303 ASIN: B06X9HWL4G
Sobre o autor: rupi kaur é uma escritora e artista que vive em toronto, no canadá. aos 5 anos, ela começou a desenhar, um hobby que herdou de sua mãe. imigrante da índia, ela não conseguia falar em inglês com outras crianças na escola, o que a fez passar bastante tempo sozinha. quando aprendeu o idioma, encontrou nos livros os melhores amigos. ela desenhou até os 17 anos, em 2009, quando passou a se dedicar mais à escrita e às performances. hoje rupi usa diferentes meios para se expressar: a poesia, a ilustração, o design, a fotografia, os vídeos. em novembro de 2014, publicou seu primeiro livro, milk and honey – editado no brasil como outros jeitos de usar a boca, best-seller mundial. o que o sol faz com as flores (the sun and her flowers) é seu segundo livro publicado pela Planeta, que, em 2020, lançou meu corpo minha casa, uma das mais aguardadas publicações dos últimos anos.
Leia trecho do livro
para
os braços
que me envolvem
meu coração me acordou chorando ontem à noite
o que posso fazer eu supliquei
meu coração disse
escreva o livro
partes
a dor
o amor
a ruptura
a cura
a dor
como é tão fácil pra você
ser gentil com as pessoas ele perguntou
leite e mel pingaram
dos meus lábios quando respondi
porque as pessoas não foram
gentis comigo
o primeiro menino que me beijou
segurou meus ombros com força
como se fossem o guidão da
primeira bicicleta
em que ele subiu
eu tinha cinco anos
ele tinha cheiro
de fome nos lábios
algo que aprendeu com
o pai comendo a mãe às 4h da manhã
ele foi o primeiro menino
a ensinar que meu corpo foi
feito para dar aos que quisessem
que eu me sentisse qualquer coisa
menos que inteira
e meu deus
eu de fato me senti tão vazia
quanto a mãe dele às 4h25
você
cresceu ouvindo
que suas pernas são
um pit stop para homens que
procuram um lugar para repousar
um corpo vazio desocupado o bastante
para receber hóspedes mas
nenhum nunca chega
disposto a
ficar
é o seu sangue
nas minhas veias
me diz como eu
poderia esquecer
o terapeuta coloca
a boneca na sua frente
ela é do tamanho das meninas
que seus tios gostam de apalpar
mostre onde ele colocou as mãos
você mostra o lugar
entre as pernas aquele
que ele arrancou com os dedos
igual a uma confissão
como você está se sentindo
você desfaz o nó
da garganta
com os dentes
e diz bem
um pouco dormente
— sessões nos dias de semana
ele deveria ser
o primeiro homem que amou na vida
você ainda procura por ele
em todo lugar
— pai
você tinha tanto medo
da minha voz
que eu decidi
ter medo também
ela era uma rosa
mas quem a pegou na mão
não tinha intenção
de guardá-la
toda vez que você
diz para sua filha
que grita com ela
por amor
você a ensina a confundir
raiva com carinho
o que parece uma boa ideia
até que ela cresce
confiando em homens violentos
porque eles são tão parecidos
com você
— aos pais que têm filhas
transei ela disse
mas não sei
como é
fazer amor
se já tivesse visto
a segurança de perto
eu teria passado menos
tempo caindo em braços
que não eram
sexo exige o consentimento dos dois
se uma pessoa está ali deitada sem fazer nada
porque não está pronta
ou não está no clima
ou simplesmente não quer
e mesmo assim a outra está fazendo sexo
com seu corpo isso não é amor
isso é estupro
a ideia de que somos
tão capazes de amar
mas escolhemos
ser tóxicos
não há no mundo ilusão maior
que a noção de que uma mulher vá
trazer desonra a um lar
caso tente proteger seu coração
e seu corpo
você pregava
minhas pernas
no chão
aos chutes
para depois pedir
que eu parasse em pé
o estupro
vai te rasgar
ao meio
mas
não vai ser
o seu fim
você tem dores
morando em lugares
em que dores não deveriam morar
uma filha não
deveria ter que
implorar ao pai
por um relacionamento
tentar me convencer
de que tenho permissão
para ocupar espaço
é como escrever com
o punho esquerdo
quando nasci
para usar meu direito
— a ideia de encolher é hereditária
você me diz para ficar quieta porque
minhas opiniões me deixam menos bonita
mas não fui feita com um incêndio na barriga
para que pudessem me apagar
não fui feita com leveza na língua
para que fosse fácil de engolir
fui feita pesada
metade lâmina metade seda
difícil de esquecer e não tão fácil
de entender
ele a destripa
com os dedos
como quem raspa
as sementes de um
melão-cantalupo
sua mãe
tem essa mania
de dar mais amor
do que você pode carregar
seu pai está ausente
você é uma guerra
a fronteira entre dois países
o dano colateral
o paradoxo que os une
mas também os separa
deixar a barriga da minha mãe vazia
foi meu primeiro ato de desaparecimento
aprender a encolher para uma família
que gosta de ver as filhas invisíveis
foi o segundo
a arte de se esvaziar
é simples
acredite quando eles dizem
que você não é nada
vá repetindo
como um mantra
eu não sou nada
eu não sou nada
eu não sou nada
tão concentrada
que o único jeito de saber
que você ainda existe é
o seu peito ofegante
— a arte de se esvaziar
você é igualzinha à sua mãe
acho mesmo que a ternura dela me cai bem
vocês duas têm os mesmos olhos
porque nós duas estamos exaustas
e as mãos
temos os mesmos dedos secos
mas essa raiva sua mãe não veste esse ódio
tem razão
essa raiva é a única coisa
que vem do meu pai
(tributo a herança, de warsan shire)
quando minha mãe abre a boca
para conversar durante o jantar
meu pai enfia a palavra silêncio
nos seus lábios e diz que ela
nunca deve falar com a boca cheia
foi assim que as mulheres da minha família
aprenderam a viver com a boca fechada
nossos joelhos
arreganhados
por primos
e tios
e homens
nossos corpos manipulados
pelas pessoas erradas
que mesmo numa cama segura
sentimos medo
pai. você sempre liga sem ter nada especial a dizer. você
pergunta o que estou fazendo ou onde estou e se o silêncio
entre nós se estende por uma vida dou um jeito de encontrar
perguntas que façam a conversa continuar. o que eu queria
mesmo dizer é. eu sei que o mundo te despedaçou. foi com
tudo pra cima de você. não te culpo por não saber
ser delicado comigo. às vezes fico acordada pensando
em todos os machucados que você tem e nunca vai
dizer. eu venho do mesmo sangue dolorido. do mesmo
osso tão sedento por atenção que desabo em mim
mesma. eu sou sua filha. eu sei que a conversa-fiada é o
único jeito que você conhece de dizer que me ama. porque
é o único jeito que eu conheço.
você me revira por dentro com dois dedos e eu fico chocada
acima de tudo. parece borracha esfregando uma ferida aberta.
não gosto. você começa a se mexer cada vez mais rápido. mas
não sinto nada. você busca uma reação no meu rosto e começo
a agir como as mulheres nuas dos vídeos que você vê quando
acha que ninguém está olhando. imito os gemidos. vazios
e vorazes. você pergunta se estou gostando e eu digo sim
tão rápido que soa ensaiado. mas a interpretação.
você não percebe.
o problema de ter
um pai alcoólatra
é que um pai alcoólatra
não existe
simplesmente
um alcoólatra
que não conseguiria ficar sóbrio
tempo o suficiente para criar os filhos
não sei dizer se minha mãe está
aterrorizada ou apaixonada pelo
meu pai parece tudo
a mesma coisa
estremeço quando você me toca
temo que seja ele
o amor
quando minha mãe estava grávida
do segundo filho eu tinha quatro anos
apontei para sua barriga inchada sem saber como
minha mãe tinha ficado tão grande em tão pouco tempo
meu pai me ergueu com braços de tronco de árvore e
disse que nesta terra a coisa mais próxima de deus
é o corpo de uma mulher é de onde a vida vem
e ouvir um homem adulto dizer algo
tão poderoso com tão pouca idade
fez com que eu visse o universo inteiro
repousando aos pés da minha mãe
tenho tanta dificuldade
de entender
como alguém
pode derramar sua alma
sangue e energia
em alguém
sem pedir
nada em
troca
— tenho que esperar até ser mãe
não
não vai
ser amor à
primeira vista quando
a gente se conhecer vai ser
à primeira recordação porque
já te vi nos olhos da minha mãe
quando ela me diz para casar com o tipo
de homem que eu criei meu filho para ser
toda revolução
começa e termina
com os lábios dele
o que eu sou pra você ele pergunta
eu coloco as mãos em seu peito
e sussurro você
é toda esperança
que eu já tive
na forma humana
o que eu mais gosto em você é o seu cheiro
você tem cheiro de
terra
ervas
jardins
um pouco mais
humano que a gente
eu sei que eu
devia desmoronar
por motivos melhores
mas você por acaso já viu
aquele menino ele deixa
o sol de
joelhos toda
noite
você é a linha tênue
entre ter fé e
esperar às cegas
— carta ao meu futuro amante
nada mais seguro
que o som de você
lendo alto para mim
— o encontro perfeito
ele tocou
meu pensamento
antes de chegar
à minha cintura
meu quadril
ou minha boca
ele não disse que eu era
bonita de primeira
ele disse que eu era
extraordinária
— como ele me toca
estou aprendendo
a amá-lo
me amando
ele diz
desculpe por eu não ser uma pessoa fácil
eu olho pra ele surpresa
quem disse que eu queria fácil
eu não gosto de fácil
gosto de difícil pra caralho
só de pensar em você
minhas pernas abrem espacate
como um cavalete com uma tela
implorando por arte
eu estou pronta pronta para você- a primeira vez
eu estou pronta para você
eu sempre
estive
pronta para você
— a primeira vez
não quero ter você
para preencher minhas partes vazias
quero ser plena sozinha
quero ser tão completa
que poderia iluminar a cidade
e só aí
quero ter você
porque nós dois juntos
botamos fogo em tudo
o amor vai chegar
e quando o amor chegar
o amor vai te abraçar
o amor vai dizer o seu nome
e você vai derreter
só que às vezes
o amor vai te machucar mas
o amor nunca faz por mal
o amor não faz jogo
porque o amor sabe que a vida
já é difícil o bastante
eu estaria mentindo se dissesse
que você me deixa sem palavras
a verdade é que você deixa minha
língua tão fraca que ela esquece
a linguagem que fala
ele pergunta o que eu faço
digo que trabalho em uma empresa pequena
que produz embalagens para –
ele me interrompe no meio da frase
não não o que você faz para pagar as contas
o que te enlouquece
o que te deixa com insônia
eu digo eu escrevo
ele me pede para mostrar alguma coisa
com as pontas dos dedos
toco a parte interna de seu antebraço
e vou roçando até o pulso
os pelos se arrepiam
vejo ele fechar a boca
os músculos se comprimem
seus olhos se derramam nos meus
como se eu fosse o motivo
pelo qual eles piscam
eu desvio o olhar
quando ele se move em minha direção
eu recuo
é isso que você faz então
você exige atenção
minhas bochechas coram
dou um sorriso tímido
confesso que
não consigo evitar
você pode não ter sido meu primeiro amor
mas foi o amor que tornou
todos os outros amores
irrelevantes
você me tocou
sem nem precisar
me tocar
como você faz para deixar
meu fogo selvagem
tão suave que acabo virando
água corrente
você tem cara de quem cheira a
mel e nenhuma dor
me deixa experimentar um pouco
seu nome
é a conotação
positiva e negativa
mais forte em qualquer língua
ou ele me acende ou
me deixa dias em agonia
você fala demais
ele sussurra no meu ouvido
conheço jeitos melhores de usar essa boca
é a sua voz
que me despe
meu nome soa tão bem
beijando de língua sua língua
você envolve meu cabelo
com os dedos
e puxa
é assim
que você tira
música de mim
— preliminares
em dias
como hoje
preciso que você
passe os dedos
pelo meu cabelo
e fale baixinho
— você
quero que suas mãos
segurem
não minhas mãos
que seus lábios
beijem
não meus lábios
mas outros lugares
preciso de alguém
que conheça a dificuldade
tão bem quanto eu
alguém
disposto a colocar minhas pernas no colo
nos dias em que é muito difícil ficar em pé
o tipo de pessoa que ofereça
exatamente o que eu preciso
antes que eu saiba que preciso
o tipo de amante que me ouça
mesmo quando não falo
esse é o tipo de compreensão
que eu exijo
— o tipo de amante de que eu preciso
você coloca minha mão
entre minhas pernas
e fala
faça esses dedinhos lindos dançarem pra mim
— performance solo
nós temos discutido mais do que deveríamos. sobre coisas
com que nenhum dos dois se importa ou lembra porque
assim evitamos as perguntas maiores. em vez de perguntar
por que nós não falamos eu te amo tanto quanto antes.
nós brigamos por coisas como: quem deveria se levantar
primeiro e apagar a luz. ou quem deveria colocar a
pizza congelada no forno depois do trabalho. atacando as
partes mais vulneráveis um do outro. somos como um espinho
espetado no dedo meu amor. sabemos exatamente onde dói.
e hoje as cartas estão na mesa. como aquela vez que
você falou dormindo um nome que não era nada parecido com
o meu. ou semana passada quando disse que ia chegar tarde
do trabalho. liguei e disseram que você tinha ido embora
fazia umas horas. onde é que você estava por umas horas.
eu sei. eu sei. suas desculpas fazem todo o sentido do
mundo. e eu fico meio nervosa por qualquer coisa
e no fim começo a chorar. mas o que você esperava
querido. te amo tanto. me desculpa por pensar que estava
mentindo.
é aí que você fica frustrado e coloca as mãos na
cabeça. meio me suplicando pra parar. meio farto e de saco
cheio. a toxina de nossas bocas queimou nossas bochechas.
estamos menos vivos que antes. com menos cor no rosto.
mas não se engane. não importa aonde isso vai chegar nós
dois sabemos que você ainda quer me jogar no chão.
especialmente quando grito tão alto que nossa briga acorda
os vizinhos. e eles vêm correndo até a porta pra salvar
a gente. baby não abra a porta.
em vez disso. me engana que eu gosto. me abre como mapa. e
com o dedo vá rastreando os lugares que ainda quer *****
em mim. beije como se eu fosse o centro de gravidade e você
caísse em mim como se minha alma fosse o ponto focal da
sua. e quando sua boca estiver beijando não minha boca
mas outros lugares. minhas pernas se abrirão por hábito. e
é aí que. te puxo pra dentro. te trago de volta. pra casa.
quando a rua inteira estiver olhando pela janela
perguntando por que tanto barulho. os carros de bombeiros
que chegaram pra nos salvar não conseguem saber
se as chamas começaram com nossa raiva ou nossa paixão.
vou sorrir. jogar a cabeça pra trás. arquear meu corpo como
montanha que você quer partir ao meio. pode lamber amor.
como se sua boca tivesse o dom da leitura e eu fosse
seu livro favorito. ache a página favorita no ponto macio
entre minhas pernas e leia devagar. fluente. com vontade.
não ouse deixar nem uma palavra intocada. e eu juro
que o final vai ser tão bom. as palavras finais vêm vindo.
deslizando pra sua boca. e quando você terminar. sente-se.
porque é minha vez de fazer música com os joelhos
no chão.
meu bem. é assim. que arrancamos linguagem um
do outro com a ponta da língua. é assim que
discutimos. é assim. que fazemos as pazes.
— como fazemos as pazes
a ruptura
eu sempre
me enfio
nessa confusão
eu sempre deixo
que ele diga que sou incrível
e meio que acredito
eu sempre pulo pensando
que ele vai me segurar
na queda
irremediavelmente eu sou
a amante e
a sonhadora e
isso ainda
acaba comigo
quando minha mãe diz que mereço coisa melhor
eu te defendo por força do hábito
ele ainda me ama eu grito
ela olha para mim com olhos derrotados
do jeito que os pais olham para os filhos
quando sabem que esse é o tipo de mágoa
que nem eles conseguem mudar
e diz
pra mim esse amor não significa nada
se ele não faz merda nenhuma com isso
você estava tão distante
que esqueci que você estava lá
você disse. se é pra ser. o destino vai nos unir
de novo. por um segundo me pergunto se você é mesmo
tão ingênuo. se acredita de verdade que o destino funciona
assim. como se ele vivesse no céu e nos observasse. como
se tivesse cinco dedos e passasse o tempo movendo a gente
como peças de xadrez. como se não fossem as escolhas que
fazemos. quem foi que te ensinou isso. me diz. quem
foi que te convenceu. de que você ganhou um coração e
uma cabeça que não pertencem a você. que suas ações
não definem o que vai acontecer com você. quero
gritar e berrar que somos nós seu idiota. somos as únicas
pessoas que podem nos unir novamente. mas em vez
disso eu sento quieta. sorrindo de leve pensando
entre lábios trêmulos. é ou não é uma coisa trágica.
quando você vê tudo tão claro mas a outra pessoa
não vê nada.
não confunda
sal com açúcar
se ele quiser
ficar com você
ele vai ficar
é simples assim
ele só sussurra eu te amo
quando desliza a mão
para abrir o botão
da sua calça
é aí que você tem
que entender a diferença
entre querer e precisar
você pode querer esse menino
mas você com toda a certeza
não precisa dele
você tinha uma beleza tentadora
mas quando cheguei perto me feriu
a mulher que vem depois de mim vai ser uma versão
pirata de quem eu sou. ela vai tentar escrever poemas
pra te fazer apagar aqueles que deixei decorados nos
seus lábios mas os versos dela nunca serão um soco
no estômago como os meus. então ela vai tentar
fazer amor com o seu corpo. mas ela nunca vai
lamber, tocar ou chupar como eu. ela vai ser uma
reserva triste da mulher que você deixou escapar. nada
que ela fizer vai te excitar e isso vai destruí-la. quando
estiver cansada de se contorcer por um homem que não
dá nada em troca ela vai me reconhecer nas suas
pálpebras que a encaram com dó e tudo vai fazer sentido.
como ela pode amar um homem que está ocupado amando
alguém em quem ele nunca mais vai colocar as mãos.
da próxima vez que
pedir um café preto
você vai sentir o jeito
amargo com que ele te deixou
isso vai te fazer chorar
mas você nunca vai
trocar de bebida
você prefere ter as partes
mais sombrias dele
a não ter nada
acima de tudo
quero te salvar
de mim