Em seu laço – Livro de Bruna Longobucco

Em seu laço - Livro de Bruna Longobucco

Trecho do livro

“Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.” Charles Chaplin

Através do tempo
Olho a estrada de novo
Enfeitada de pés de manga
Cheirosa de fruta e de mato
Saudade que dá do campo
Saudade do meu passado…

Prefácio

Eu tinha completado nove anos dois meses atrás. Poucos dias antes do natal, surpreendi minha mãe olhando um álbum de fotos no chão da sala. Fiquei curiosa e me sentei ao seu lado.

— Que fotos são essas, mamãe?

— Da fazenda do seu avô, filha, na realidade, é a fazenda que ele nos deixou.

— Nós temos uma fazenda?

— Temos.

— Nossa, que legal! Dessas com vaca e tudo?

— Sim, gado, cavalo, terras, lagoa, cachoeira e plantações. Ah, Lis, sinto tanta falta do meu pai, você ia gostar muito dele. Seu avô cultivava café. Um café tão cheiroso… Vinha gente de longe pra comprar. Até hoje me lembro do orgulho que ele sentia mostrando os cafezais.

— E por que você saiu de lá?

— Porque conheci seu pai quando vim fazer faculdade na UFMG, daí nos casamos, você chegou e eu não voltei mais.

— Quero conhecer nossa fazenda!

— Você vai, filha. E sabe de uma coisa, vamos logo depois cio natal. Aqui pode ser nossa casa, mas lá encontraremos um lar de verdade.

— E o que é um lar, mãe?

— Como posso te explicar, lar é onde a gente encontra um sentido maior para a vida.

— Mas então, por que ainda está aqui?

— Porque alguém muito importante mora nesta casa.

— Quem?

— Você, linda.

— Mas eu posso ir com você, não posso?

— Pode sim, filha, mas não para morar. Temos que ir e voltar, porque seu pai não te quer longe.

— Eu nem vejo meu pai, não vai fazer muita diferença, vai?

— Faz sim, mas acho que ele não se importa se a gente passar as férias lá.

— Promete que me leva?

— Prometo.

Mas a minha mãe nunca conseguiu cumprir a promessa, porque a perdi uma semana depois. A partir daí nunca mais comemorei o natal.

Capítulo Um

Minas Gerais, dezembro de 2015

“Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar…”
Ovelha Negra, Rita Lee


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