Livro ‘De Volta para Casa’ por L.A. Casey

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Para Lane, voltar para casa é difícil. É difícil porque seu amado tio Harry morreu de repente, mas também por causa dele: Kale. Kale Hunt é seu melhor amigo desde a infância. Mas nunca foi simples. Por causa dele, Lane saiu de casa e foi morar em Nova York. Vê-lo com outra pessoa, apaixonado por outra pessoa, não deveria doer. Mas doía. Doía muito, de verdade. Então ela levantou acampamento e foi embora, começou uma vida nova e se desligou do passado. Mas agora está de volta, e todos os sentimentos estão bem ali. Como se nunca tivessem ido embora. As emoções são intensas, e a tragédia tem um jeito estranho de unir as pessoas. Mas Lane está lendo os sinais corretamente? Eles ainda são só amigos, ou existe mais alguma coisa?

Editora: ‎AllBook Editora; 1ª edição (1 setembro 2020); Páginas: ‎323 páginas; ISBN-10: 6586624207; ISBN-13:‎ 978-6586624205; ASIN: B08H9TK96W

Biografia do autor: L.A. Casey é autora best-seller do New York Times e do USA Today que concilia seu tempo entre seu mini-eu e a escrita. Ela nasceu, cresceu e ainda mora em Dublin, Irlanda. Ela gosta de conversar com seus leitores, que amam seu humor e sotaque irlandês tanto quanto seus livros. O primeiro livro de Casey, DOMINIC, foi publicado independentemente em 2014 e se tornou um sucesso instantâneo na Amazon. Ela é publicada tradicional e independentemente e é representada por Mark Gottlieb, do Trident Media Group. 

Trecho do livro

Empurrei os óculos para o alto do nariz enquanto relia a carta do meu irmão pela milionésima vez desde que a recebera, dois dias atrás. Ela estabelecia duas coisas. Primeira: meu tio tinha falecido. Meu padrinho e querido amigo havia partido. E segunda: eu precisava ir para casa.

Nenhuma das duas coisas me fazia pular de alegria.

Ergui os olhos do papel gasto em que Lochlan havia escrito e olhei pela janela do trem. A área rural de Yorkshire passava por mim, e em segundos me perdi em sua beleza verde. Infelizmente o glamour da interminável paisagem de sonho não era suficiente para disfarçar a dor em meu peito. A horrível aflição me trouxe rapidamente de volta ao presente, gritando que eu não podia fugir dele.

Não desta vez, Lane, cochichou uma voz azeda em minha cabeça. Desta vez, não pode fugir.

Nenhuma beleza a olho nu, nenhum conforto para o ouvido sensível poderia apagar a inevitável realidade que eu logo teria de enfrentar cara a cara. Mudei de posição no assento quando meu estômago protestou contra a ideia do que os próximos dias trariam.

Por que isso tinha que acontecer?, pensei, deprimida.

Eu me senti culpada por desejar momentaneamente estar em meu apartamento em Nova York, não em um trem a caminho da minha cidade, York, Inglaterra. Depois me senti envergonhada por questionar a morte do meu tio em um momento tão terrível para mim, quando devia estar questionando apenas por que Deus teve de levá-lo.

Minhas prioridades, como sempre, estavam erradas.

Era difícil engolir o nó que se formou em minha garganta. Depois de respirar fundo algumas vezes para me acalmar, peguei o celular no bolso do casaco e abri meus e-mails. Meu lábio tremeu quando fui subindo a tela. Havia centenas e mais centenas de mensagens do meu tio Harry que nunca deletei, e fiquei feliz por isso. Ele era a única pessoa da família com quem eu falava diariamente. Na verdade, era a única pessoa da família com quem eu ainda falava. Consegui fugir de todos os outros, mas não do meu tio Harry.

Ele era um pé no saco, mas eu não o trocaria por ninguém no mundo todo. Era meu amigo mais verdadeiro, em quem eu mais confiava, e agora ele havia partido.

Estranhei quando não me mandou um e-mail na terça-feira de manhã. Tínhamos conversado pelo Skype na tarde anterior, e ele estava bem. Tínhamos uma rotina: eu acordava todos os dias com um e-mail dele, e trocávamos mensagens até que eu fosse falar com ele por Skype na minha hora do almoço, no trabalho. Quando eram duas da tarde em Nova York, eram sete da noite em York. Tio Harry ia para a cama por volta das nove da noite, e sempre conversávamos antes disso.

Na terça de manhã, quando não recebi o e-mail, liguei imediatamente para sua casa, mas o telefone tocou até a secretária eletrônica atender. Deixei um recado rápido pedindo para ele me ligar assim que pudesse e fiquei apavorada quando não retornou a ligação. Fiquei apreensiva por não poder ligar para os meus pais para perguntar por ele, já que tinha apagado o número deles anos antes.

O único número que sabia de cor era o do tio Harry, porque ele tinha o mesmo número desde que eu conseguia lembrar.

Quando a manhã de quarta-feira chegou e ele ainda não tinha feito nenhum contato comigo, decidi procurar na internet o número do telefone do Lilly’s Café, na Pavement Street. Minha avó era dona do estabelecimento, mas ela também estava na minha lista de pessoas com quem não falava, como meus pais e irmãos, por isso não éramos próximas.

Não como éramos antes de eu sair da cidade.

Como exceção desse detalhe, decidi que, se tinha de telefonar para alguém para saber do meu tio, precisava ser para minha avó. Ela era teimosa demais, mas era a única pessoa da família com quem se podia argumentar. E bem pouco.

Não tinha intemet no meu apartamento, o que era chocante, considerando que eu era editora freelancer, porque o sinal na minha região em muito ruim. Eu usava o Wi-Fi gratuito da loja local do Starbucks sempre que precisava de acesso. Naquela manhã de quarta-feira, me vesti com a intenção de ir até a Starbucks para entrar em contato com minha avó.

Encontrei o carteiro no térreo do meu prédio quando estava saindo, e ele me entregou uma carta. Havia carimbos de urgente no envelope, bem como adesivos de entrega no dia seguinte. Tinha sido postado no dia anterior. O endereço do remetente era o do meu irmão, e eu abri a correspondência imediatamente.

Li aquela carta desgraçada, e foi a segunda vez na vida em que meu coração se partiu em um milhão de pedaços. A devastação que habitava dentro de mim era uma emoção conhecida, mas dessa vez era causada por uma pessoa completamente diferente, relacionada a uma situação inteiramente diferente. Mais uma vez fui dominada pelo tipo de tristeza que penetra nos ossos, em vez de explodir em uma cascata de lágrimas. A tristeza que eu sentia me preenchia da cabeça aos pés, e eu não conseguia fugir dela.

Mas tentei. Tentei pensar em outra coisa quando reservei o voo para Londres. Tentei pensar em outra coisa quando aterrissei no Aeroporto Heathrow e peguei o trem Heathrow Express para a Estação Paddington. Tentei pensar em qualquer coisa que não fosse o rosto do meu tio Harry, e fui bem até pegar um táxi da Estação Paddington para a Estação King’s Cross e embarcar no último trem da jornada para York. Assim que pisei no Vagão B, o vagão silencioso, a voz do tio Harry explodiu em cada pensamento que eu criava para tentar encobri-lo. Sua voz estava presa em mim, e eu me sentia confortada e triste por isso.

Fui arrancada dos meus pensamentos quando o trem parou de repente. Confusa, olhei pela janela. Não olhava mais para a área rural; agora estava olhando para a plataforma movimentada da minha última parada: York.

Bem-vindo ao lar, Lane.

Depois de respirar profundamente, levantei e, nervosa, guardei o celular no bolso do casaco, antes de pegar minha pequena mala no compartimento de bagagem sobre a cabeça. Alguns minutos mais tarde, estava andando sozinha pela plataforma, puxando a mala. Peguei um táxi da estação para o Holiday hm, um hotelzinho que ficava a uns dez minutos da casa dos meus pais, me registrei na recepção e me instalei no quarto pequeno, mas aconchegante. Estava descansando da viagem, quando o celular apitou. Vi o nome do meu irmão e gemi.

Lochlan queria a confirmação de que eu viria para casa para o funeral do meu tio. Não podia dizer que ele estava errado por tentar se certificar. Nunca respondi àquela carta. Só li e entrei em ação, reservando o primeiro voo disponível que decolasse de Nova York.

Engoli a bile que subia pela garganta enquanto esperava impacientemente pela resposta. Tinha muitas perguntas, mas não queria resposta nenhuma. Queria saber por que meu tio estava morto se sua saúde era perfeita. Queria saber por que ele estava vivo na noite de segunda-feira e morto na terça-feira de manhã. Mas se tivesse as respostas que minha mente buscava, seria como se aceitasse que meu tio havia partido, e eu ainda não estava pronta para isso.

Pulei de susto quando o celular apitou de novo, anunciando um novo e-mail.

Um nó se formou em minha garganta. Fazia sentido que meu tio estivesse na casa dos meus pais; meu tio adorava minha mãe, e ela tinha um enorme afeto por ele. Era sua irmã caçula, sua cúmplice e sua gêmea.

Esfreguei os olhos quando eles começaram a arder.

Peguei uma calça jeans justa, um par de botas, uma camiseta de manga comprida, todas pretas, e um blazer cinza. Vestida, parei na frente do espelho de corpo inteiro e me encarei. Continuava com a mesma aparência de sempre, mas percebi as diferenças sutis que outras pessoas veriam quando olhassem para mim. O cabelo castanho-chocolate agora estava mais comprido, chegava quase na cintura. Os seios eram mais cheios, e o quadril estava um pouco mais largo, dando ao corpo uma curva que me anunciava como mulher, não mais como menina. Minha pele de porcelana tinha uma porção de sardas claras, e os olhos verdes ainda eram escondidos por óculos que repousavam no alto da ponte do nariz.

Ajeitei o blazer e pisquei. Não sabia por que, mas não queria ir mal vestida ao primeiro encontro com minha família em seis anos. Queria parecer composta, embora estivesse destruída por dentro.

Trancei o cabelo para mantê-lo afastado do rosto e nem perdi tempo com maquiagem, porque ver meu tio abriria uma comporta de emoções que estragaria tudo, de qualquer maneira. Peguei uma echarpe azul-claro em cima da cama e a coloquei no pescoço, antes de pegar o celular e a chave do quarto.

A casa dos meus pais ficava perto dali, decidi ir a pé. Não estava chovendo, o que era raro, mas era meio de outubro, e a noite já havia caído completamente às seis e começava a ficar realmente frio. Cruzei os braços e passei pela frente do café da minha avó de cabeça baixa. Estava fechado, como eu esperava. Não vi luzes pelo canto do olho, mas, por precaução, não olhei diretamente para lá.

A caminhada até a casa dos meus pais foi mais silenciosa do que eu lembrava, e antes que pudesse perceber, estava diante da porta da casa onde cresci, onde passei a infância. Notei uma decoração discreta de Halloween, o que me fez lembrar do feriado próximo, mas, além disso, tudo era exatamente igual à última vez que a vi, há seis anos, como se nada tivesse mudado… ou acontecido.

Você consegue, disse a mim mesma.

Respondi o pensamento muitas vezes na cabeça enquanto erguia a mão e me preparava para bater na porta de madeira escura e envernizada. Não tive tempo, porém, porque a porta se abriu de repente, e duas mulheres de vinte e poucos anos surgiram do outro lado, saindo da casa. Eu não sabia quem eram e fiquei encarando as duas.

Ah, desculpa! — disse a loira platinada, deixando escapar um gritinho antes de se recompor. — Posso ajudar?

Quem é ela? E por que está perguntando se pode me ajudar?

— Não, obrigada — respondi com educação. — Posso passar?

A mulher não saiu do lugar, e a morena ao lado dela cruzou os braços e chegou mais perto da amiga. Olhei para a loira, depois para a morena. Era como se elas estivessem tentando me manter fora da casa.

— Quem é você? — perguntou a loira.

Seu tom não era grosseiro, só curioso.

Impaciente, batuquei com o pé no chão e contei até cinco antes de responder:

— Eu sou a Lane. Esta casa é dos meus pais. Será que pode me dar licença, por favor?

Lane?! — A loira exclamou.

Ela falava como se me conhecesse, mas eu não a reconhecia. Balancei a cabeça em uma resposta afirmativa, e isso fez as duas mulheres arregalarem os olhos e se afastarem instantaneamente, formando um corredor entre elas. Agradeci, passei no meio das duas e entrei na casa dos meus pais. Nervosa, respirei fundo e segui pelo corredor em direção à sala.

Olhei para trás quando a loira e a morena passaram por mim apressadas e foram em direção à cozinha. Depois olhei novamente para a porta da sala. Sabia que meu tio estava lá, naquela sala; foi onde tia Teresa ficou quando morreu, muitos anos atrás.

Segurei a maçaneta da porta e, com delicadeza, a pressionei com a ponta dos dedos. O cheiro de jasmim invadiu as narinas e me envolveu como um cobertor. Inspirei e deixei o conforto do aroma familiar me cercar. Mantinha o olhar baixo, mas vi a base do apoio sobre o qual estava o caixão. Caminhei lentamente até lá e hesitei por um momento. Antes de paralisar completamente, dei a volta no caixão, parei à direita dele e senti que o ar me faltou quando levantei a cabeça e o vi.

Cobri a boca com a mão quando um soluço escapou. Ele estava realmente ali — não era uma piada de mau gosto… O corpo estava morto, era verdade. Vê-lo trouxe de volta a lembrança de uma conversa que tivemos por Skype alguns anos atrás, e isso me abalou muito.


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