LIVRO-PRESENTE EM CAPA DURA E RICAMENTE ILUSTRADO. O novo livro do autor de As coisas que você só vê quando desacelera, que já vendeu mais de 70 mil exemplares no Brasil. “O mundo está precisando de um pouco mais de amor, compaixão e sabedoria. Haemin Sunim nos ensina a cultivar tudo isso e a encontrar beleza nas coisas mais imperfeitas – inclusive em nós mesmos.” – Susan Cain, autora de O poder dos quietos Como aceitar a si mesmo num mundo em busca de perfeição Neste livro, o monge zen-budista Haemin Sunim ensina a arte de cuidar de si mesmo e de se relacionar com os outros com a sabedoria e a delicadeza que o tornaram conhecido no mundo todo...
Capa dura: 288 páginas Editora: Editora Sextante (18 de março de 2019) ISBN-10: 8543107229 ISBN-13: 978-8543107226 ASIN: B07PGWVDSK
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Prólogo
Às vezes deparamos com um filme que fica na nossa cabeça durante muito tempo. Para mim, esse filme foi Nada é para sempre. Ambientado no início do século XX, com o lindo cenário de Montana como pano de fundo, ele conta a história da família Maclean, que via a pesca como uma religião. O pai é um ministro presbiteriano que tem dois filhos. O mais velho, Norman, tem a vida estabilizada e se torna professor universitário. O mais novo, Paul, leva uma vida de devassidão e trabalha como repórter para um jornal local; seu vício no jogo o leva a contrair uma enorme dívida e, por fim, ele é espancado até a morte num beco. O pai, consumido pela profunda dor da perda, fala à congregação no culto de domingo, tentando conter a emoção, e revela seu amor pelo segundo filho. “Podemos amar completamente”, diz ele, “mesmo sem entender por completo.”
Para o pai, era difícil entender por que o filho precisava levar uma vida desregrada. No entanto, isso não o impediu de amá-lo – porque, para ele, o amor transcende a compreensão humana. Em vez de amar apenas quando entendemos o que amamos, o tipo de amor profundo e duradouro demonstrado pelo pai não deixa de existir quando quem amamos tem um comportamento com o qual não concordamos. Conforme sugere o título original do filme, A River Runs Through It,nas profundezas do coração o amor sempre flui, como um rio.
Quando examinamos a nossa vida, vemos muitas imperfeições, como partículas de poeira num espelho. Existem várias coisas que nos deixam insatisfeitos e infelizes: com frequência nossas palavras não correspondem a nossas ações, nossos relacionamentos são colocados à prova por nossos erros, nossos melhores planos para o futuro não saem como esperávamos. E ainda por cima, ao longo da vida, ferimos uns aos outros várias vezes, intencionalmente ou não, o que gera culpa e arrependimento em nós.
Isso, porém, também acontece com nossos familiares e amigos. A criança que não escuta o que os pais lhe dizem; seus pais que não entendem você; seu companheiro ou companheira que não se comporta de maneira sensata. Amigos íntimos com hábitos pouco saudáveis que o fazem se preocupar com o bem-estar deles. Todo dia, quando assistimos ao noticiário, vemos que o planeta está repleto de mais conflitos, mais acidentes, mais discórdia. Parece que nunca acaba.
E mesmo assim, embora haja tantas coisas imperfeitas no mundo em que vivemos, não conseguimos deixar de amá-las. Porque a vida é preciosa demais para ser desperdiçada ridicularizando e odiando o que não nos agrada, o que não entendemos. À medida que amadurecemos em termos espirituais, naturalmente desenvolvemos mais empatia e buscamos ver as coisas da perspectiva dos outros. Isso, por sua vez, nos ensina a aceitar as imperfeições deles e as nossas de uma forma mais amável e compassiva, do mesmo modo que uma mãe ama o filho incondicionalmente.
Esta é uma coletânea das minhas reflexões sobre aprender a enxergar o mundo e a mim mesmo de maneira mais compassiva. Fui inspirado pelas pessoas que compartilharam suas histórias de vida comigo e pelas perguntas que me fizeram em palestras e nas redes sociais. Elas abriram meu coração e aprofundaram minha sabedoria. Espero que este livro seja para você um ombro amigo nos momentos de desespero e que lhe traga paz nas horas de dificuldade.
– Haemin Sunim
Escola dos corações partidos, Seul
Não sejas bonzinho demais
VOCÊ ERA UMA DAQUELAS crianças que ganhavam elogios por ser “um bom menino” ou “uma boa menina”? E então passou a se esforçar muito para ser bonzinho ou boazinha, sempre concordando com pais, professores e parentes mais velhos? Mesmo que às vezes fosse difícil, aprendeu a não reclamar e aguentar as coisas em silêncio? E agora que chegou à idade adulta, ainda sente que tem a responsabilidade de agradar as outras pessoas? Você faz um esforço constante para não incomodar nem ser um peso para os demais? E quando alguém dificulta as coisas, você tenta apenas ignorar ou tolerar, porque não é da sua natureza fazer ou dizer algo que possa magoar o outro ou deixá-lo desconfortável?
CONHECI MUITAS PESSOAS boas que sofrem de depressão, crises de pânico e outros transtornos emocionais por causa de dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Elas costumam ser delicadas, bem-educadas e solícitas. São do tipo que se sacrifica e com frequência coloca os desejos dos demais à frente dos próprios. E por que, eu me perguntei, pessoas tão boas acabam se tornando vítimas do sofrimento mental e emocional?
Eu também era introvertido e tímido quando criança e, portanto, sempre ganhava elogios por ser “bonzinho”. Um bom filho, que não dava trabalho aos pais, um bom aluno, que prestava atenção nos professores – tudo isso me ensinou que era positivo ser bonzinho. Mas quando fui para a faculdade, comecei a achar que devia haver algo de errado em ser sempre bonzinho. Nos trabalhos em grupo com colegas que eram mais espertos que eu, que tinham a personalidade mais forte, descobri que as tarefas que ninguém queria fazer sempre caíam para mim. Eu continuava dizendo a mim mesmo que era bom fazer o bem, mas à medida que o tempo foi passando isso começou a me estressar muito. Quando abri meu coração e tive uma conversa franca com um amigo mais velho que estudava comigo, ele me deu o seguinte conselho: “Seja bonzinho com você mesmo primeiro, depois com os outros.”
Foi como ser atingido por um raio. Até aquele ponto, eu só me preocupava com o que as outras pessoas pensavam a meu respeito. Nunca havia pensado direito sobre cuidar de mim ou amar a mim mesmo.
QUANDO DIZEMOS QUE alguém é “bonzinho”, em geral significa que a pessoa age de acordo com a vontade dos outros e não é assertiva. Em outras palavras, aqueles que são hábeis em reprimir os próprios desejos para ceder aos dos outros são os que chamamos de “bonzinhos”. Se alguém sempre escuta o que digo e segue os meus conselhos, é natural que eu o considere uma boa pessoa e goste dele. Parece então que “bonzinho” às vezes se refere a quem pensa demais nos outros e por isso não é capaz de expressar a própria vontade.
Apesar de não ser sempre o caso, podemos ver um padrão específico no nosso relacionamento com quem quer que nos tenha criado quando criança. Muitas pessoas que se anulam dessa maneira cresceram com um pai dominante ou uma mãe de personalidade forte, ou eram o irmão do meio, que recebia relativamente menos atenção, e isso despertou nelas um intenso desejo de ganhar o reconhecimento dos pais obedecendo-lhes em tudo. Em alguns casos, quando o relacionamento entre os adultos não era bom ou a dinâmica familiar era de alguma forma estranha, havia aqueles que assumiam a tarefa de fazer os pais felizes sendo “bonzinhos”.
Mas o problema é que, ao viver de acordo com as exigências dos outros, inadvertidamente negligenciamos nossos próprios desejos e necessidades. Se na infância você era indiferente aos próprios sentimentos, minimizando-os ou não os considerando importantes, depois de adulto você não será capaz de dizer o que quer fazer nem de mostrar quem é como pessoa. Então, quando se deparar com alguém que o tratar mal ou dificultar as coisas para você, não saberá expressar direito os próprios sentimentos e acabará deixando presa dentro de você a raiva que deveria ser direcionada a quem a causou. E, assim, terminará atacando a si mesmo. “Por que sou tão idiota que não consigo expressar o que estou sentido nem consigo falar com franqueza?”
ACIMA DE TUDO, por favor, lembre-se de que: o que você está sentindo não deve ser ignorado, pois é muito significativo. Os sentimentos aí dentro não desaparecem só porque você decidiu reprimi-los ou ignorá-los. Muitos problemas psicológicos surgem quando a repressão se torna um hábito e a energia dessas emoções não consegue encontrar uma válvula de escape saudável. Assim como a água estagnada se torna fétida e tóxica, isso também acontece com as suas emoções.
Mas não é tarde demais. A partir de agora, antes de concordar com o que os outros querem fazer, por favor escute a voz aí dentro dizendo o que você quer de verdade. Mesmo quando se sentir esmagado por exigências constantes, se de fato não quiser fazer alguma coisa, não tente se obrigar, esgotando-se a ponto de não conseguir mais lidar com a situação. Em vez disso, tente exprimir em palavras o que você está sentindo para que os outros possam entendê-lo. Não tenha medo de que, ao se expressar, eles deixem de gostar de você ou vá desgastar a relação. Se eles soubessem o que você sente de verdade, provavelmente nem teriam feito tais exigências.
Mesmo quando todo mundo diz “Vamos tomar um café”, se você quer um suco, está tudo bem em dizer: “Prefiro suco.” É positivo ser bonzinho com os outros, mas não esqueça que você tem a responsabilidade de ser bonzinho consigo mesmo primeiro.